A forma é de um ser humano num período de radiante beleza juvenil – somente até esse ponto a aparência é humana. Depois disso as semelhanças cessam, a aura brilhando com uma pureza e um esplendor muito além dos de criaturas de barro. Ao redor da cabeça e dos ombros raios de força dardejam para cima e para fora como cabelos esvoaçando no vento, enquanto acima das sobrancelhas nobremente modeladas o brilho é tão deslumbrante que quase cega a visão interior. A forma central é a de um jovem um tanto delgado, de um tom rosáceo quase transparente; os olhos, tanto no formato como na expressão, transmitem mais do que um indício de poder não humano, no entanto, neles há o raiar da influência suavizante do amor humano. Essa combinação produz um efeito de beleza indescritível, como de um Deus que voluntariamente sacrifica a imortalidade por amor aos homens mortais. O motivo deste sacrifício está profundamente enraizado uma determinação inabalável, como do aço em sua força e poder para cumprir os ditames internos da alma. O efeito total é o de um dos deuses da Grécia antiga, saltando para a vida e marchando como Hermes do Olímpio até as casas e corações dos homens. É quase impossível imaginar esse ser semelhante a Deus vestido com a carne enfadonha do homem, o brilho daquele olhar penetrante tornado opaco pelos olhos de carne, aquela pureza radiante apagada por uma vida manchada pelas paixões, aquela exaltação perpétua da mente amordaçada pelos pares de opostos. No entanto, esse é o caminho pelo qual ele se propõe a trilhar. Obscurecida será a coroa de glória assentada em sua cabeça, perdidas por um tempo estarão as asas áuricas e as sandálias aladas do Deus, enquanto ele caminha como um homem entre homens, paramentado com roupagens materiais, um peregrino no círculo externo.
Luz do Santuario Geoffrey Hodson pág. 72
29 de outubro de 1921 (21:20) Sala de estar, The Haven, Preston, Lancashire, Inglaterra