CAPÍTULO 4 O Yoga da Sabedoria

Disse o Senhor Bendito:

4.1 Este Yoga imutável, proclamei-o a Vivasvat 1Vivasvat (nominativo: Vivasvān) é o nome do Sol como principal divindade solar.. Vivasvat anunciou-o a Manu 2Manu é o progenitor mitológico da raça humana, o “Adão” da Índia. Cada manvantara (um conjunto de quatro yugas ou eras) tem seu próprio Manu. e Manu declarou-o a Ikshvāku 3Ikshvāku foi o fundador da Dinastia Solar na Índia.

4.2 Assim recebido de uns pelos outros, ele foi aprendido pelos videntes reais. [No entanto], no longo decorrer-do-tempo, este Yoga foi perdido aqui [na Terra], ó Paramtapa 4Sobre o epíteto Paramtapa, ver a nota 5 em 2.3.

4.3 Este antigo Yoga, em verdade proclamo-o hoje a ti, [pois] és Meu devoto 5O bhakta é a pessoa dotada de bhakti, “devoção/amor”. e amigo. Decerto, este é o segredo inigualável 6A palavra rahasya (“segredo”) pode conter uma referência oculta ao fato de que, em seus colofões, o Gītā é descrito como um Upanishad, ou seja, um ensinamento secreto. As pessoas saíam dos povoados para comunicar, em voz baixa, esses segredos.

Arjuna disse:

O Teu 7A palavra bhavatah (“Teu”) é o equivalente formal do corriqueiro tava (“teu”). A diferença é indicada pelo uso da inicial maiúscula.nascimento é posterior, o de Vivasvat é anterior; como devo entender esta [Tua afirmação] de que proclamaste [este Yoga] no princípio?

Disse o Senhor Bendito:

Muitos são os Meus nascimentos passados e [muitos] são também os teus, ó Arjuna. Eu os conheço a todos, [mas] tu não conheces [os teus], ó Paramtapa.

 Embora [Eu], o Si Mesmo imutável, não [seja] nascido, [e] conquanto seja o Senhor de [todos os] seres – [não obstante], governando Minha própria natureza (prakriti), venho-a-ser por meio da Minha Própria potência-criativa (māyā) 8A palavra māyā não é empregada aqui no sentido de “ilusão”, mas pretende denotar a força dinâmica que constitui a “natureza inferior” de Deus, pela qual a vontade deste se manifesta no universo criado. Ver 7.4-7.5 sobre a noção de uma natureza “inferior” e uma natureza “superior” em Deus..

4.7 Pois sempre que há uma exaustão da lei e uma ascensão da anomia, ó descendente-de-Bharata, crio a Mim mesmo [numa forma manifesta] 9Esse é o primeiro aparecimento, no Gītā, da doutrina das encarnações divinas (avatāra). Essa noção pertence particularmente ao vaishnavismo.

4.8 Para proteger os bons, para destruir os malfeitores, para estabelecer a lei, venho-a-ser de era em era 10Era = yuga. Ver Parte Um, Capítulo 7, “O Conceito Hindu de Tempo Cíclico”.

4.9 Aquele que, dessa maneira, realmente conhece Meu divino nascimento e Minha ação, ao abandonar o corpo, nunca [mais] sofre o renascimento; ele vem a Mim, ó Arjuna.

4.10 Muitos [homens] livres da paixão, do medo [e] da ira, impregnados de Mim, recorrendo a Mim, purificados pela ascese 11Aqui, o conhecimento enquanto sabedoria é entendido como ascese (tapas).o conhecimento – [todos eles] vêm ao Meu estado-de-existência (bhāva).

4.11 Assim como esses [yogins] recorrem a Mim, assim também Eu os amo. Em toda parte, ó filho-de-Prithā, os seres humanos seguem Meus rastros.12O termo vartman (“rastro”) também pode ser traduzido por “caminho”.

 4.12 Desejosos de sucesso em suas ações [rituais], eles oferecem aqui [na Terra] sacrifícios às divindades; pois vem célere, no mundo humano, o sucesso que nasce da ação [ritual].

4.13 As quatro castas 13Sobre as quatro castas ou estados sociais, ver a nota 29 em 1.41.foram criadas por Mim [com a adequada] distribuição-proporcional 14Sobre o termo vibhāga, ver a nota 39 em 3.28.das qualidades primárias e das ações. Embora Eu seja o autor desta [criação], conhece-Me [como] o não agente imutável 15Versículos como esse dão força à filosofia não dualista radical de Shri Shankara, mas a intenção real dessa estrofe é bem contrária a um ponto de vista tão extremado. Não há nada de ilusório (māyikā) no fato de Krishna ser o criador do mundo. Ele é ao mesmo tempo transcendente e imanente, e portanto seu ser incomensurável desafia todas as categorias lógicas. A lógica exclui os contrários e não leva em conta a inclusividade da experiência mística.

4.14 As ações não Me maculam. Não [há], para Mim, anseio pelo fruto da ação. Assim, aquele que Me reconhece [como o não agente] não é agrilhoado pelas ações.

4.15 Cientes disso, os antigos, desejosos da libertação, também executavam ações. Portanto, em verdade tu [deves igualmente] executar ações [como] há muito tempo fizeram os antigos.

4.16 “O que é a ação? O que é a inação?” Sobre isso, até os bardos [184] 16O termo kavi (“bardo”) é frequentemente usado como sinônimo de muni (“sábio”).se confundem. Declarar-te-ei aquela ação cujo conhecimento libertar-te-á do mal.

4.17 Com efeito, deve-se compreender [a natureza] da ação; deve-se compreender a ação má (vikarman) e deve-se compreender a inação (akarman). Impenetrável17O termo gahanā (“impenetrável”) parece ser relacionado com a raiz verbal guh (embora não seja diretamente derivado dela), que significa “cobrir/ocultar/manter em segredo”. é o curso da ação.

4.18 Aquele que vê a inação na ação e a ação na inação é dotado-de-sabedoria entre os humanos; [é] jungido, executando ações íntegras.18A expressão kritsna-karma-krit (“executando ações íntegras”) brinca com a ideia de totalidade, já discutida na nota 40 em 3.29. As ações “íntegras” ou “completas” (kritsna) são aquelas que preservam e confirmam o Todo – aquelas que são espontâneas, na medida em que é a própria estrutura do Todo que se afirma no agir da pessoa. Esses atos são naturalmente bons, pois refletem a ordem universal (rita).

4.19 [O homem] cujos empreendimentos são todos livres de desejo e motivação 19A palavra samkalpa, que geralmente significa “intenção/volição/resolução/propósito”, é empregada aqui no sentido de “motivo” ou “motivação”. O “bem do mundo” (loka-samgraha) de que fala o versículo 3.20 não pode ser considerado uma motivação no sentido comum da palavra, pois é essencialmente uma expressão da ordem cósmica (rita) dentro da mente do yogin que está em harmonia com o Todo. Ver também 6.2., [cuja] ação é consumida no fogo do conhecimento – a ele os sábios chamam [verdadeiramente] “erudito” (pandita).

4.20 Tendo abandonado [todo] apego ao fruto da ação, sempre contente e independente, embora dedicado à ação [correta] – ele não age em absoluto.20Considera-se que os atos verdadeiramente não egoístas (ou autotranscendentes) têm a natureza do sacrifício ou da transcendência-da-ação (naishkarmya). Sobre isso, ver a nota 9 em 3.4.

4.21 Sem-nada-esperar 21Sobre a visão iogue da esperança (āshis), ver a nota 42 em 3.30., controlando a si [e a seus] pensamentos, abandonando todos os bens e executando ações tão somente [com] o corpo 22A expressão sharīram kevalam karma kurvan (“executando ações tão somente [com] o corpo”) também pode significar “executando ações tão somente [para manter ou conservar] o corpo”. Ver também 3.8.– ele não incorre em culpa.

4.22 Contente com o que se obtém por acaso 23Sobre o termo yadricchā (“acaso”), ver a nota 34 em 2.32., transcendendo os pares-de-opostos 24Sobre o termo dvandva (“pares-de-opostos”), ver a nota 19 em 2.15., sem inveja, igual no sucesso e no fracasso – embora aja, ele não é agrilhoado.

4.23 [Para aquele cujo] apego se foi, [que está] liberto, [cuja] mente se encontra estabelecida no conhecimento [enquanto] executa ações para o sacrifício, [as consequências do karma estão] completamente dissolvidas.

4.24 O fundamento-universal 25Em minha opinião, o termo brahman significa aqui o fundamento do mundo, a natureza inferior de Deus, e não a Realidade Suprema, que é o seu significado nos Upanishads, por exemplo. Ver a nota 66 em 2.72. [Por outro lado, na opinião de todos os comentadores tradicionais, sem exceção, o termo brahman tem, nesse versículo e em todo o livro, o mesmo sentido que tem nos Upanishads, designando portanto o Espírito Universal Incondicionado, princípio, fim e essência de toda realidade, do qual todas as coisas em todos os mundos são manifestações parciais e transitórias. Desse ponto de vista, o termo poderia ser traduzido convencionalmente por “Absoluto” ou mesmo, preferencialmente, ser mantido em sua forma original. Esse versículo ficaria assim: “Brahman é a oferta. Brahman é a oblação oferecida por Brahman no fogo de Brahman.Em verdade, Brahman deve ser alcançado por ele por meio da concentração [na] ação, [que tem a natureza do próprio] Brahman.” (N.T.)]é a oferta. O fundamento universal é a oblação oferecida pelo fundamento-universal no fogo do fundamento–universal. Em verdade, o fundamento universal deve ser alcançado por ele por meio da concentração 26Sobre o termo samādhi, traduzido aqui por “concentração”, ver a nota 43 em 2.44.[na] ação, [que tem a natureza do próprio] fundamento-universal.

4.25 Em verdade, alguns yogins executam um sacrifício às divindades (daiva); outros, por meio do sacrifício, lançam suas oferendas [diretamente] no fogo do fundamentouniversal. 27Também aqui vale o que foi dito na N. do T. anterior. O versículo poderia ser traduzido da seguinte maneira: “Em verdade, alguns yogins sacrificam às divindades; outros, por meio do sacrifício, lançam suas oferendas [diretamente] no fogo de Brahman.” (N.T.)

4.26 Outros oferecem a audição e as demais faculdades no fogo da contenção, [enquanto] outros oferecem o som e os outros objetos [dos sentidos] no fogo das faculdades.

4.27 Outros ainda oferecem todas as ações das faculdades e as ações da força vital 28A força vital (prāna) é o alento que sustenta todos os processos corporais. Ver Chāndogya-Upanishad 7.15.1: “Ou, assim como os raios são fixados no cubo da roda, assim também todas as coisas são fixadas nessa força vital. A vida se move pela força vital; a força vital dá vida, dá [vida] a um [ser] vivente” (yathā vā arā nābhau samarpitāḥ evam asmin prāṇe sarvaṃ samarpitam prāṇaḥ prāṇena yāti prāṇaḥ prāṇaṃ dadāti praṇāya dadāti).no fogo do Yoga da autocontenção, aceso pelo conhecimento. 29Este Yoga é a realidade simbolizada pelo famoso sacrifício do fogo (agni-hotra) descrito no Chāndogya-Upanishad 5.19-24.

4.28 Alguns – ascetas que fizeram severos votos – [oferecem] os objetos-materiais como sacrifício, a ascese (tapas) como sacrifício, o Yoga como sacrifício e o conhecimento [obtido por meio do] estudo 30O composto svādhyāya-jnāna, traduzido aqui como “conhecimento [obtido por meio do] estudo”, poderia talvez ser traduzido por “conhecimento livresco”; mas essa expressão também tem o significado de “conhecimento e estudo”.como sacrifício.

4.29 Ainda outros, dedicados ao controle da respiração, 31A prática do prānāyāma (prāna + āyāma, literalmente “extensão da respiração”), termo traduzido aqui por “controle da respiração”, é uma das técnicas mais antigas do Yoga. Consiste no controle da força vital [e, consequentemente, das agitações mentais – N.T.] por meio da regulação da respiração.lançam como oferendas a inspiração na expiração [e] a expiração na inspiração, controlando o fluxo da inspiração e da expiração. 32A palavra prāna (“respiração”, “sopro”, “alento”, “vida”) é usada tanto como termo genérico (no sentido de “força vital”) quanto como designação de um tipo particular de energia vital. A tradição dos Upanishads distingue cinco tipos de prāna: (1) prāna ou “inspiração”, (2) apāna ou “expiração”, (3) vyāna ou “respiração difusa”, (4) udāna ou “respiração ascendente” e (5) samāna ou “respiração central”. Ver, p. ex., BrihadāranyakaUpanishad 1.5.3. Nesta estrofe (4.29), prāna tem o sentido de “inspiração”.

4.30 Outros, restringindo a dieta, lançam o sopro vital como oferenda no sopro vital. Todos esses, com efeito, são conhecedores do [verdadeiro] sacrifício, [cujas] máculas são removidas pelo sacrifício.

4.31 Desfrutando o néctar (amrita) das sobras dos sacrifícios, eles entram no eterno fundamento-universal. Este mundo não é para os que não se sacrificam – quanto [mais] o outro [mundo], ó Kurusattama?33O epíteto Kurusattama significa “Primeiro entre os Kurus”.

4.32 Múltiplos são, portanto, os sacrifícios distribuídos 34A palavra vitata (“espalhados”, traduzida aqui por “distribuídos”), derivada da raiz verbal tan (“expandir”), refere-se à prática sacrificial de dispor as oferendas sobre o altar do fogo antes de lançá-las às chamas. na presença do fundamento-universal. 35O fundamento-universal (brahman) é onipresente [na medida em que é a essência e a realidade última de todas as coisas – N.T.]; portanto sua presença (mukha, literalmente “boca” ou “face”) também se manifesta onde quer que os sacrifícios sejam realizados. De outro ponto de vista, a “boca” do Absoluto é o fogo sacrificial. Zaehner (1966) traduz: “dispostas de um lado a outro da boca de brahman”. Trata-se de mais uma referência à íntima relação que une brahman e yajna. Ver 3.15.Estejas ciente de que todos eles nascem da ação [ritual]. Conhecendo isso, serás libertado.

4.33 Melhor que o sacrifício material é o sacrifício do conhecimento, ó Paramtapa. Toda ação, ó filho-de-Prithā, se consuma completamente no conhecimento.

4.34 Toma ciência disso pela reverência, pela investigação e pelo serviço. Os conhecedores [que] contemplam a Realidade 36A palavra tattva significa literalmente “ipseidade” (thatness) [e pode ser traduzida também por “identidade” – N. do T.].ensinar-te-ão um conhecimento —

4.35 que, quando dele estiveres ciente, não mais sucumbirás à confusão, ó filho-de-Pāndu, [e] pelo qual contemplarás todos os seres no Si Mesmo e depois em Mim. 37Este versículo é uma antecipação de 6.29-32.

4.36 Mesmo que sejas o mais pecador dos pecadores, em verdade atravessarás todo [o oceano da] maldade sobre a jangada do conhecimento.

4.37 Assim como um fogo aceso reduz seu combustível a cinzas, ó Arjuna, assim também o fogo do conhecimento reduz a cinzas todas as ações.

4.38 Pois aqui [na Terra] não há nada que purifique como o conhecimento; e, com o tempo, o [homem] perfeito no Yoga o constatará em si mesmo por si mesmo.

4.39 O [yogin] cheio de fé 38Sobre essa fé, Krishna Prem (1938/1969, p. 36) comenta que ela “não é a crença cega dos sectários, mas a firme aspiração da alma que busca dar a si mesma uma aspiração que seja ela própria um reflexo da Sabedoria que ela prefigura”.[e] atento Àquilo, [com] os sentidos contidos, alcança o conhecimento. Tendo alcançado o conhecimento, logo alcançará a suprema paz.

4.40 [A pessoa] ignorante, sem fé e de alma cheia de dúvidas perecerá. Para a alma cheia de dúvidas, não há felicidade nem neste mundo nem no outro.

4.41 [Aquele que] renunciou à ação por meio do Yoga, [cujas] dúvidas são dissipadas pelo conhecimento, [que é] senhor de si – as ações não [o] agrilhoam, ó Dhanamjaya. 39Sobre o epíteto Dhanamjaya, ver a nota 7 em 1.15. O adjetivo “senhor de si” (ātmavanta) não significa “egocêntrico”, mas “autocontrolado”.

4.42 Portanto, decepando com a espada do conhecimento essa dúvida nascida da ignorância [e] sediada em teu coração, recorre ao Yoga, ó descendente-de-Bharata! Levanta-te! 40Nataraja Guru (1973) faz o interessante comentário: “A espada da sabedoria se encontra no Eu verdadeiro, no Si Mesmo, e a dúvida está sediada no coração. Isso significa que essas duas coisas se localizam em dois polos dentro da constituição psicológica da pessoa. A conversão do coração se efetua por meio de uma dose de sabedoria, por assim dizer, e vice-versa.” Nesse versículo, Krishna ainda não ordena diretamente a Arjuna que lute, como fará quando vir que o discípulo já se decidiu a entrar na batalha. Seu argumento é mais sutil, evidenciando o aspecto espiritual de seus ensinamentos. Recorrendo ao Yoga, à espiritualidade, Arjuna fatalmente fará o que deve fazer.

Notas de Rodapé

  • 1
    Vivasvat (nominativo: Vivasvān) é o nome do Sol como principal divindade solar.
  • 2
    Manu é o progenitor mitológico da raça humana, o “Adão” da Índia. Cada manvantara (um conjunto de quatro yugas ou eras) tem seu próprio Manu.
  • 3
    Ikshvāku foi o fundador da Dinastia Solar na Índia.
  • 4
    Sobre o epíteto Paramtapa, ver a nota 5 em 2.3.
  • 5
    O bhakta é a pessoa dotada de bhakti, “devoção/amor”.
  • 6
    A palavra rahasya (“segredo”) pode conter uma referência oculta ao fato de que, em seus colofões, o Gītā é descrito como um Upanishad, ou seja, um ensinamento secreto. As pessoas saíam dos povoados para comunicar, em voz baixa, esses segredos.
  • 7
    A palavra bhavatah (“Teu”) é o equivalente formal do corriqueiro tava (“teu”). A diferença é indicada pelo uso da inicial maiúscula.
  • 8
    A palavra māyā não é empregada aqui no sentido de “ilusão”, mas pretende denotar a força dinâmica que constitui a “natureza inferior” de Deus, pela qual a vontade deste se manifesta no universo criado. Ver 7.4-7.5 sobre a noção de uma natureza “inferior” e uma natureza “superior” em Deus.
  • 9
    Esse é o primeiro aparecimento, no Gītā, da doutrina das encarnações divinas (avatāra). Essa noção pertence particularmente ao vaishnavismo.
  • 10
    Era = yuga. Ver Parte Um, Capítulo 7, “O Conceito Hindu de Tempo Cíclico”.
  • 11
    Aqui, o conhecimento enquanto sabedoria é entendido como ascese (tapas).
  • 12
    O termo vartman (“rastro”) também pode ser traduzido por “caminho”.
  • 13
    Sobre as quatro castas ou estados sociais, ver a nota 29 em 1.41.
  • 14
    Sobre o termo vibhāga, ver a nota 39 em 3.28.
  • 15
    Versículos como esse dão força à filosofia não dualista radical de Shri Shankara, mas a intenção real dessa estrofe é bem contrária a um ponto de vista tão extremado. Não há nada de ilusório (māyikā) no fato de Krishna ser o criador do mundo. Ele é ao mesmo tempo transcendente e imanente, e portanto seu ser incomensurável desafia todas as categorias lógicas. A lógica exclui os contrários e não leva em conta a inclusividade da experiência mística.
  • 16
    O termo kavi (“bardo”) é frequentemente usado como sinônimo de muni (“sábio”).
  • 17
    O termo gahanā (“impenetrável”) parece ser relacionado com a raiz verbal guh (embora não seja diretamente derivado dela), que significa “cobrir/ocultar/manter em segredo”.
  • 18
    A expressão kritsna-karma-krit (“executando ações íntegras”) brinca com a ideia de totalidade, já discutida na nota 40 em 3.29. As ações “íntegras” ou “completas” (kritsna) são aquelas que preservam e confirmam o Todo – aquelas que são espontâneas, na medida em que é a própria estrutura do Todo que se afirma no agir da pessoa. Esses atos são naturalmente bons, pois refletem a ordem universal (rita).
  • 19
    A palavra samkalpa, que geralmente significa “intenção/volição/resolução/propósito”, é empregada aqui no sentido de “motivo” ou “motivação”. O “bem do mundo” (loka-samgraha) de que fala o versículo 3.20 não pode ser considerado uma motivação no sentido comum da palavra, pois é essencialmente uma expressão da ordem cósmica (rita) dentro da mente do yogin que está em harmonia com o Todo. Ver também 6.2.
  • 20
    Considera-se que os atos verdadeiramente não egoístas (ou autotranscendentes) têm a natureza do sacrifício ou da transcendência-da-ação (naishkarmya). Sobre isso, ver a nota 9 em 3.4.
  • 21
    Sobre a visão iogue da esperança (āshis), ver a nota 42 em 3.30.
  • 22
    A expressão sharīram kevalam karma kurvan (“executando ações tão somente [com] o corpo”) também pode significar “executando ações tão somente [para manter ou conservar] o corpo”. Ver também 3.8.
  • 23
    Sobre o termo yadricchā (“acaso”), ver a nota 34 em 2.32.
  • 24
    Sobre o termo dvandva (“pares-de-opostos”), ver a nota 19 em 2.15.
  • 25
    Em minha opinião, o termo brahman significa aqui o fundamento do mundo, a natureza inferior de Deus, e não a Realidade Suprema, que é o seu significado nos Upanishads, por exemplo. Ver a nota 66 em 2.72. [Por outro lado, na opinião de todos os comentadores tradicionais, sem exceção, o termo brahman tem, nesse versículo e em todo o livro, o mesmo sentido que tem nos Upanishads, designando portanto o Espírito Universal Incondicionado, princípio, fim e essência de toda realidade, do qual todas as coisas em todos os mundos são manifestações parciais e transitórias. Desse ponto de vista, o termo poderia ser traduzido convencionalmente por “Absoluto” ou mesmo, preferencialmente, ser mantido em sua forma original. Esse versículo ficaria assim: “Brahman é a oferta. Brahman é a oblação oferecida por Brahman no fogo de Brahman.Em verdade, Brahman deve ser alcançado por ele por meio da concentração [na] ação, [que tem a natureza do próprio] Brahman.” (N.T.)]
  • 26
    Sobre o termo samādhi, traduzido aqui por “concentração”, ver a nota 43 em 2.44.
  • 27
    Também aqui vale o que foi dito na N. do T. anterior. O versículo poderia ser traduzido da seguinte maneira: “Em verdade, alguns yogins sacrificam às divindades; outros, por meio do sacrifício, lançam suas oferendas [diretamente] no fogo de Brahman.” (N.T.)
  • 28
    A força vital (prāna) é o alento que sustenta todos os processos corporais. Ver Chāndogya-Upanishad 7.15.1: “Ou, assim como os raios são fixados no cubo da roda, assim também todas as coisas são fixadas nessa força vital. A vida se move pela força vital; a força vital dá vida, dá [vida] a um [ser] vivente” (yathā vā arā nābhau samarpitāḥ evam asmin prāṇe sarvaṃ samarpitam prāṇaḥ prāṇena yāti prāṇaḥ prāṇaṃ dadāti praṇāya dadāti).
  • 29
    Este Yoga é a realidade simbolizada pelo famoso sacrifício do fogo (agni-hotra) descrito no Chāndogya-Upanishad 5.19-24.
  • 30
    O composto svādhyāya-jnāna, traduzido aqui como “conhecimento [obtido por meio do] estudo”, poderia talvez ser traduzido por “conhecimento livresco”; mas essa expressão também tem o significado de “conhecimento e estudo”.
  • 31
    A prática do prānāyāma (prāna + āyāma, literalmente “extensão da respiração”), termo traduzido aqui por “controle da respiração”, é uma das técnicas mais antigas do Yoga. Consiste no controle da força vital [e, consequentemente, das agitações mentais – N.T.] por meio da regulação da respiração.
  • 32
    A palavra prāna (“respiração”, “sopro”, “alento”, “vida”) é usada tanto como termo genérico (no sentido de “força vital”) quanto como designação de um tipo particular de energia vital. A tradição dos Upanishads distingue cinco tipos de prāna: (1) prāna ou “inspiração”, (2) apāna ou “expiração”, (3) vyāna ou “respiração difusa”, (4) udāna ou “respiração ascendente” e (5) samāna ou “respiração central”. Ver, p. ex., BrihadāranyakaUpanishad 1.5.3. Nesta estrofe (4.29), prāna tem o sentido de “inspiração”.
  • 33
    O epíteto Kurusattama significa “Primeiro entre os Kurus”.
  • 34
    A palavra vitata (“espalhados”, traduzida aqui por “distribuídos”), derivada da raiz verbal tan (“expandir”), refere-se à prática sacrificial de dispor as oferendas sobre o altar do fogo antes de lançá-las às chamas.
  • 35
    O fundamento-universal (brahman) é onipresente [na medida em que é a essência e a realidade última de todas as coisas – N.T.]; portanto sua presença (mukha, literalmente “boca” ou “face”) também se manifesta onde quer que os sacrifícios sejam realizados. De outro ponto de vista, a “boca” do Absoluto é o fogo sacrificial. Zaehner (1966) traduz: “dispostas de um lado a outro da boca de brahman”. Trata-se de mais uma referência à íntima relação que une brahman e yajna. Ver 3.15.
  • 36
    A palavra tattva significa literalmente “ipseidade” (thatness) [e pode ser traduzida também por “identidade” – N. do T.].
  • 37
    Este versículo é uma antecipação de 6.29-32.
  • 38
    Sobre essa fé, Krishna Prem (1938/1969, p. 36) comenta que ela “não é a crença cega dos sectários, mas a firme aspiração da alma que busca dar a si mesma uma aspiração que seja ela própria um reflexo da Sabedoria que ela prefigura”.
  • 39
    Sobre o epíteto Dhanamjaya, ver a nota 7 em 1.15. O adjetivo “senhor de si” (ātmavanta) não significa “egocêntrico”, mas “autocontrolado”.
  • 40
    Nataraja Guru (1973) faz o interessante comentário: “A espada da sabedoria se encontra no Eu verdadeiro, no Si Mesmo, e a dúvida está sediada no coração. Isso significa que essas duas coisas se localizam em dois polos dentro da constituição psicológica da pessoa. A conversão do coração se efetua por meio de uma dose de sabedoria, por assim dizer, e vice-versa.” Nesse versículo, Krishna ainda não ordena diretamente a Arjuna que lute, como fará quando vir que o discípulo já se decidiu a entrar na batalha. Seu argumento é mais sutil, evidenciando o aspecto espiritual de seus ensinamentos. Recorrendo ao Yoga, à espiritualidade, Arjuna fatalmente fará o que deve fazer.
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