“O Senhor Bendito disse:
“Agora eu direi a ti que és sem inveja aquele conhecimento mais misterioso junto com a prática, conhecendo os quais tu serás livre do mal.
Esta é a ciência real, um mistério real, altamente purificador, diretamente compreensível, consistente com as leis sagradas, fácil de praticar, (e) imperecível.
Aquelas pessoas, ó castigador de inimigos, que não têm fé nessa doutrina sagrada, não alcançando a mim, voltam ao caminho deste mundo que está sujeito à destruição.
Este universo inteiro é permeado por mim em minha forma imanifesta. Todas as entidades estão em mim, mas eu não resido nelas.
Nem também todos os entes estão em mim.
Vê meu poder divino.
Sustentando todos os entes e produzindo todos os entes, eu mesmo (contudo) não resido (naqueles) entes.
Como a grande atmosfera sempre ocupa espaço, entende que todas as existências residem em mim da mesma maneira.1A atmosfera ocupa espaço sem afetar a ele ou sua natureza. Assim todas as coisas estão no Ser Supremo sem afetá-lo.
Todas as entidades, ó filho de Kuntī, alcançam a minha natureza2O princípio imanifesto ou essência primordial. no fim de um Kalpa. Eu as crio novamente no início de um Kalpa.
Regulando a minha própria natureza (independente) eu crio novamente todo esse grupo de existências o qual é maleável por sua sujeição à natureza.3Ao Karma; a influência do Karma ou ação sendo universal em determinar a forma de uma entidade específica no momento de sua criação.
Aqueles atos, no entanto, ó Dhanaṃjaya, não restringem a mim que permaneço como alguém indiferente, sendo independente daquelas ações (de criação).
Através de mim, o supervisor, a natureza primordial produz (o universo dos) móveis e imóveis.
Por essa razão (a minha supervisão), ó filho de Kuntī, o universo passa por suas rondas (de nascimento e destruição).
Não conhecendo a minha natureza suprema de grande senhor de todas as entidades, as pessoas ignorantes de esperanças inúteis, ações inúteis, conhecimento inútil, mentes confusas, ligadas à natureza ilusória de Asuras e Rākṣasas, me desconsideram como (alguém) que assumiu um corpo humano.
Mas as pessoas de grande alma, ó filho de Pṛthā, possuidoras de natureza divina, e com mentes dirigidas para nada mais, me adoram, reconhecendo (a mim) como a origem de todos os entes e indestrutível.
Sempre me glorificando, (ou) se esforçando com votos firmes, (ou) reverenciando a mim, com veneração e sempre devotados, (eles) me cultuam. Outros, além disso, realizando o sacrifício de conhecimento,4Crendo que Vasudeva é tudo. me adoram, (alguns) como único, (alguns) como diverso, (alguns) como permeando o universo, em muitas formas (como Brahman, Rudra, etc.)
Eu sou o sacrifício Vêdico, eu sou o sacrifício ordenado nas Smṛtis, eu sou Svadhā, eu sou o medicamento produzido de ervas; eu sou o mantra,5O verso ou versos sagrados usados para invocar divindades e para outros propósitos. eu sou a libação sacrifical, eu sou o fogo, e eu sou a oferenda (sacrifical).
Eu sou o pai desse universo, a mãe, o criador, avô; (eu sou) a coisa a ser conhecida, os meios pelos quais tudo é purificado, a sílaba Om, o Ṛk, o Sāman e o Yajus, (eu sou) a meta, o sustentador, o senhor, o espectador, a residência, o refúgio, o amigo, a fonte, a destruição, o suporte, o receptáculo; e a semente indestrutível.
Eu dou calor, eu produzo e suspendo a chuva; eu sou a imortalidade, e também a morte; e eu sou o existente e o inexistente, ó Arjuna.
Aqueles que conhecem os três ramos de conhecimento, e também bebem o suco Soma, e cujos pecados têm sido purificados adorando a mim por meio de sacrifícios, procuram admissão no céu; e esses alcançando a região sagrada do chefe dos deuses desfrutam no céu do prazer celestial dos deuses.
Tendo desfrutado daquele mundo celeste de vasta extensão, após o esgotamento de seus méritos eles reentram no mundo mortal. É dessa maneira que aqueles que aceitam as doutrinas dos três Vedas e desejam objetos de desejos obtêm inda e vinda. Aquelas pessoas que, pensando (em mim) sem dirigir suas mentes para qualquer coisa mais, me adoram, àqueles que são (assim) sempre devotados (a mim), eu faço presentes e preservo o que eles têm.
Até aqueles devotos que dotados de fé adoram outras divindades, eles mesmos, ó filho de Kuntī, adoram a mim somente, (embora) irregularmente. Eu sou o desfrutador, como também o senhor, de todos os sacrifícios. Eles, no entanto, não me conhecem realmente; por isso eles caem (do céu).
Aqueles cujos votos são dirigidos aos Pitṛs alcançam os Pitṛs; aqueles que dirigem (seu) culto para os espíritos inferiores chamados Bhūtas alcançam os Bhūtas; aqueles que me adoram, alcançam a mim mesmo.
Aqueles que me oferecem com reverência uma folha, flor, fruta, ou água, esse oferecido com reverência, eu aceito daquele cujo eu é puro.
O que quer que tu faças, o que quer que comas, o que quer que bebas, o que quer que does, quaisquer austeridades que tu realizes, maneja isso de tal maneira, ó filho de Kuntī, que isso possa ser uma oferenda a mim.
Desse modo tu poderás ser libertado dos grilhões da ação que tem resultados bons e maus. Dotado de renúncia e devoção, tu serás libertado e virás a mim.
Eu sou igual para todas as criaturas; não há ninguém odioso para mim, ninguém caro.
Aqueles, no entanto, que me adoram com reverência estão em mim e eu também estou neles. Se uma pessoa de conduta extremamente pecaminosa me reverencia, sem cultuar alguém mais, ela deve certamente ser considerada boa, pois seus esforços são bem dirigidos. (Tal pessoa) logo vem a ser de alma virtuosa, e obtém tranquilidade eterna.
Sabe, ó filho de Kuntī, que alguém devotado a mim jamais é perdido. Pois, ó filho de Pṛthā, mesmo aqueles que sejam de nascimento pecaminoso, mulheres, vaiśyas, e também śūdras, até eles, recorrendo a mim, alcançam a meta suprema. O que então (eu direi) de brâmanes pios e santos que são meus devotos?
Tendo vindo a esse mundo transitório e miserável, dedica-te ao meu culto. Fixa a tua mente em mim; sê meu devoto, meu adorador; curva-te a mim; e assim fazendo de mim teu refúgio e aplicando teu eu à abstração, tu sem dúvida virás a mim.’”
Notas de Rodapé
- 1A atmosfera ocupa espaço sem afetar a ele ou sua natureza. Assim todas as coisas estão no Ser Supremo sem afetá-lo.
- 2O princípio imanifesto ou essência primordial.
- 3Ao Karma; a influência do Karma ou ação sendo universal em determinar a forma de uma entidade específica no momento de sua criação.
- 4Crendo que Vasudeva é tudo.
- 5O verso ou versos sagrados usados para invocar divindades e para outros propósitos.