Yudhishthira (“Constante na Batalha”), também chamado Dharmaputra (“Filho de Dharma”), o mais velho dos cinco Pāndavas, é um dos personagens principais do grande épico. Representa a legalidade, a justiça, a veracidade e a integridade. Seu comportamento se assemelha mais ao de um brāhmana que ao de um guerreiro. Yudhishthira abominava a violência e fez tudo o que pôde para impedir a guerra. Porém, quando os Kauravas negaramse terminantemente a devolver um palmo sequer de terra aos Pāndavas, ele aceitou o apoio marcial de sua família e de governantes aliados. Tampouco teve dificuldade para fazer uso da força bruta de seu irmão Bhīmasena e das sofisticadas técnicas de guerra de Arjuna. A estranha relação entre esses três foi habilmente estudada por Ruth Cecily Katz (1989).
Dharmaputra, filho do deus Dharma, era um homem de muitas virtudes, mas tinha um defeito grave: gostava de jogar. Assim, num jogo de dados viciados, perdeu o reino, a esposa e a família para os trapaceiros Kauravas. Aceitou até o fim as terríveis consequências de seu ato, mesmo quando ficou sabendo que os dados estavam viciados. Era tão correto que, ao morrer, recusou-se a entrar no céu até que seu cão também pudesse entrar. (No fim, revela-se que o cão sempre fora uma manifestação de Dharma, seu pai.) Houve um incidente importante da guerra dos Bharatas em que, a conselho de Krishna, Yudhishthira abre uma exceção a sua retidão moral. Drona, um guerreiro formidável, tinha sido o principal mestre de armas tanto dos Pāndavas quanto dos Kauravas, mas em razão de complicações financeiras lutou do lado dos Kauravas. Adorava Ashvatthāman, seu filho único. Quando Drona e Ashvatthāman impuseram grandes perdas à infantaria da aliança dos Pāndavas, estes usaram um estratagema para distrair Drona, pelo menos temporariamente. Disseram-lhe que Ashvatthāman tinha sido morto.
Um elefante chamado por esse nome de fato tinha morrido, mas é claro que Drona pensou que se tratasse do filho. Pediu que Yudhishthira confirmasse o fato. Yudhishthira o fez, murmurando “o elefante” em voz baixa. Assoberbado pela tristeza, Drona caiu no chão e entrou em meditação profunda a fim de morrer. Ignorando todas as regras da honra em batalha, Dhrishtadyumna, filho do rei de Pāncāla, avançou e cortou a cabeça de Drona. A meia verdade de Yudhishthira poupou, pelo menos por certo tempo, as vidas de muitos guerreiros pāndavas e fez com que a guerra terminasse mais rápido.
Ashvatthāman, furioso, vingou-se com a ajuda de Shiva. Invadiu o acampamento dos inimigos à noite e matou numerosos guerreiros experientes, entre eles Dhrishtadyumna.
Embora Yudhishthira não tenha nenhuma fala no Gītā, ele – como também Bhīmasena, Nakula, Sahadeva, Dhritarāshtra e Bhīshma – merece ser destacado, pois é uma figura importantíssima do drama do Mahābhārata.