O CAMINHO é um, Discípulo, porém, no final, ele se abre em dois. Os seus estágios estão marcados por quatro e sete Portais. Em um final – a bem-aventurança imediata, e no outro a bem-aventurança postergada. Ambas são a recompensa do mérito: a escolha é tua.
O Um se torna dois, o Aberto e o Secreto.1O “Caminho Aberto” e o “Caminho Secreto” – ou o caminho ensinado para o leigo, exotérico e que é aceito amplamente, e o Caminho Secreto – cuja natureza é explicada durante a Iniciação.O primeiro leva à meta, o segundo, à Auto-Imolação.
Quando ao Permanente se sacrifica o Mutável, o prêmio é teu: a gota retorna para o lugar de onde veio. O Caminho ABERTO leva à mudança imutável – Nirvana, o estado glorioso da condição absoluta, a bem-aventurança que está além do pensamento humano.
Assim, o primeiro Caminho é LIBERTAÇÃO.
Mas o segundo Caminho é – RENÚNCIA, e é chamado, portanto, de “Caminho de Sofrimento”.
Este Caminho Secreto leva o Arhan a um sofrimento mental indizível; um sofrimento pelos Mortos vivos 2Os homens que ignoram as verdades esotéricas e a Sabedoria Esotérica são chamados de “Mortos vivos”.; e uma compaixão sem esperança pelos homens cuja dor é cármica; o fruto do Carma que os Sábios não ousam interromper.
Porque está escrito: “Ensina a eliminar todas as causas; quanto à ondulação dos efeitos, deves deixar que ela siga seu curso, como a grande onda de uma maré.”
O “Caminho Aberto” te levará a rejeitar o corpo bodisáttvico tão logo tenhas alcançado a meta, e te fará entrar no estado três vezes glorioso de Dharmakaya 3Esta mesma reverência popular chama de Buddhas de Compaixão aqueles Bodhisattvas que, tendo alcançado o nível de um Arhat (isto é, tendo completado o quarto ou sétimo Caminho) , se recusam a passar para o estado nirvânico ou a “usar o manto de Dharmakaya e cruzar para a outra margem”, porque assim ficaria fora do seu alcance ajudar os homens, ainda que dentro do pouco que o Carma permite. Eles preferem permanecer invisivelmente presentes no mundo (em espírito, digamos) e contribuir para a salvação dos homens influenciando-os a seguir a Boa Lei, isto é, conduzindo-os pelo Caminho da Retidão. Faz parte do budismo exotérico do norte homenagear todos estes grandes personagens como Santos, e oferecer até mesmo orações a eles, assim como os gregos e os católicos fazem em relação a seus santos e protetores ; por outro lado, os ensinamentos esotéricos não aprovam tais práticas. Há uma grande diferença entre os dois ensinamentos. O leigo exotérico dificilmente conhece o verdadeiro significado da palavra Nirmanakaya – e isso explica a confusão e as explicações inadequadas dos Orientalistas. Por exemplo, Schlagintweit acredita que o corpo-Nirmanakaya significa a forma física adotada pelos Buddhas quando eles encarnam na terra – “o menos sublime dos seus fardos terrestres” (ver “Buddhism in Tibet”) – e ele prossegue construindo uma visão inteiramente falsa do assunto. O verdadeiro ensinamento, no entanto, é o seguinte. Os três corpos ou formas Búdicas são: Nirmanakaya. Sambhogakaya. Dharmakaya. A primeira é aquela forma etérea que o indivíduo assumiria quando, deixando o seu corpo físico, aparecesse em seu corpo astral – mas tendo por acréscimo todo o conhecimento de um Adepto. O Bodisattva desenvolve esta forma em si mesmo enquanto avança pelo Caminho. Tendo alcançado a meta e recusado tirar proveito dela, ele permanece na Terra como um Adepto; e quando morre, ao invés de ir ao Nirvana, ele permanece naquele corpo glorioso que teceu para si próprio, invisível para a humanidade não-iniciada, cuidando dela e protegendo-a. Sambhogakaya é o mesmo, mas com o esplendor adicional das “três perfeições”, uma das quais é a completa obliteração de toda preocupação terrestre. O corpo Dharmakaya é o corpo de um Buddha completo, isto é, não é corpo algum, mas um sopro ideal: Consciência unida Consciência Universal, ou Alma destituída de qualquer atributo. Uma vez que passa a ser um Dharmakaya, um Adepto ou Buddha deixa para trás toda possível relação com, ou pensamento em função de, esta terra. Assim, para tornar-se capaz de ajudar a humanidade, um Adepto que conquistou o direito ao Nirvana “renuncia ao corpo Dharmakaya”, na linguagem mística: ele mantém, do Sambhogakaya, apenas o grande e completo conhecimento, e permanece no seu corpo Nirmanakaya . A Escola Esotérica ensina que Gautama Buddha, com vários dos seus Arhats, é um destes Nirmanakayas, e que, devido à sua grande renúncia e ao seu sacrifício pela humanidade, não há nenhum mais elevado que ele., que é o esquecimento do Mundo e dos homens para sempre.
O “Caminho Secreto” também leva à bem-aventurança Paranirvânica – mas ao final de inúmeros Kalpas; Nirvanas conquistados e perdidos devido a uma piedade e uma compaixão ilimitadas pelo mundo dos imortais iludidos.
Mas está dito: “Os últimos serão os maiores”. Samyak Sambuddha, o Mestre da Perfeição, desistiu do seu EU pela salvação do Mundo, ao deter-se no portal do Nirvana – o estado puro.
Agora tu tens o conhecimento que se refere aos dois Caminhos. O tempo da tua escolha virá – ó ser de Alma impetuosa – quando tiveres alcançado a meta e passado pelos sete Portais. Tua mente está clara. Já não estás preso a pensamentos ilusórios, porque aprendeste tudo. A Verdade está sem veús e olha severamente para o teu rosto. Ela diz:
“Doces são os frutos do Descanso e da Libertação alcançada pelo bem do Ser ; mas ainda mais doces são os frutos do longo e amargo dever. Sim, a Renúncia pelo bem dos outros, dos teus semelhantes, os seres humanos que sofrem.”
Aquele que se torna Pratyeka- Buddha 4Os Pratyeka Buddhas são aqueles que se esforçam por obter, e frequentemente obtêm, o manto de Dharmakaya, depois de uma série de vidas. Completamente indiferentes aos sofrimentos da humanidade e à ideia de ajudá-la, mas dando atenção apenas à sua própria bem-aventurança, eles entram no Nirvana e – desaparecem da vista e dos corações dos homens. No budismo do Norte, “Pratyeka-Buddha” é sinônimo de egoísmo espiritual.obedece apenas ao seu Eu. O Bodhisattva que venceu a batalha, que tem o prêmio em suas mãos e, no entanto, diz, em sua divina compaixão:
“Pelo bem dos outros, eu renuncio a esta grande recompensa” – esse Bodhisattva realiza a maior Renúncia.
Observa! A meta da bem-aventurança e o longo Caminho de Sofrimento estão localizadas no mais distante final. Ao longo dos próximos ciclos, tu não podes escolher nenhum deles, ó aspirante da Dor!

UPADHYAYA 5Upadhyaya é um instrutor espiritual, um Guru. Os budistas do norte os escolhem geralmente entre os Narjol, os homens santos, conhecedores de gotrabhu-jnana e jnana-darshana-shuddhi, mestres da Sabedoria Secreta., a escolha está feita, tenho sede de Sabedoria. Agora rasgaste o véu que havia diante do Caminho secreto e ensinaste o Yana maior.6Yana – veículo; assim, Mahayana é o “Grande Veículo” e Hinayana o “Pequeno Veículo”, os nomes das duas escolas de conhecimeento religioso e filosófico segundo o budismo do norte.Aqui está o teu servidor, pronto para ouvir tua orientação.
Está bem, Shrávaka.7Shrávaka – um ouvinte, um estudante que assiste às instruções religiosas. Da raiz “shru”. Quando ele vai da teoria para a prática do ascetismo, ele se torna um “praticante”, um shramana, de shrama, ação. Como Hardy demonstra, os dois termos correspondem às palavras akoustikoi e asketai dos gregos.Prepára-te, pois terás de viajar sozinho. O Instrutor só pode apontar o caminho.
O Caminho é um para todos, os meios para chegar à meta devem variar de acordo com os peregrinos.
Qual escolherás, ó ser de coração destemido? O Samtan 8Samtan (tibetano), o mesmo que o termo sânscrito Dhyana, ou o estado de meditação, do qual há quatro graus.da “Doutrina do Olho”, a Dhyana quádrupla? Ou trilharás o teu caminho pelas Paramitas 9Paramitas – as seis virtudes transcendentais; para os sacerdotes, há dez, seis em número, nobres portões de virtude que levam a Bodhi, e a Prajna, o sétimo passo da Sabedoria?
O caminho áspero da quádrupla Dhyana serpenteia morro acima. Três vezes grande é aquele que chega até o elevado topo.
As alturas das Paramitas são atravessadas por um caminho ainda mais íngreme. Deves abrir teu caminho através de sete portais, sete fortalezas guardadas por Poderes cruéis e astutos – as paixões materializadas.
Deves ter um bom ânimo, Discípulo; mantém na tua consciência a regra de ouro. Quando tiveres passado pelo portão de Srotapatti 10Srotapatti – (lit.) “aquele que entrou na corrente” que leva ao oceano nirvânico. Este termo indica o primeiro Caminho. O nome do segundo é o Caminho do Sakridagamin, “aquele que nascerá (só) mais uma vez”. O terceiro é chamado Anagamin, “aquele que não reencarnará mais”, a menos que queira renascer para ajudar a humanidade. O quarto Caminho é conhecimento como o Caminho do Rahat ou Arhat. Este é o mais alto. Um Arhat vê o Nirvana durante sua vida. Para ele não há estado pós-morte, mas sim um Samadhi, durante o qual ele vive a bem-aventurança nirvânica
11NOTA: Para ver até que ponto é impossível confiar nos orientalistas no que diz respeito aos nomes e significados exatos, basta examinar o caso de três “autoridades”. Os quatro termos recém-explicados são dados por R. Spence Hardy da seguinte maneira: 1) Sowan; 2) Sakradagami; 3) Anagami; 4) Árya. O rev. J. Edkins os apresenta como: 1) Srotapanna; 2) Sagardagam; 3) Anagamin; e 4) Arhan. Schlagintweit também os soletra de modo diferente, e cada autor, além disso, dá novas variações ao significado dos termos.., “aquele que entrou na corrente”; uma vez que o teu pé tenha pressionado a base da corrente nirvânica, nesta ou em qualquer outra vida futura, tu terás apenas mais sete nascimentos diante de ti, ó ser de Vontade adamantina.
Observa. O que vês diante dos teus olhos, ó aspirante da Sabedoria Divina?
“O manto da escuridão cobre o abismo da matéria; em suas dobras eu me debato. Sob o meu olhar ele se aprofunda, Senhor. Ele se dispersa com o aceno da tua mão. Uma sombra se movimenta, sinuosa como os anéis de uma serpente que avança. . . . . . Ela cresce, se expande e desaparece na escuridão.”
Ela é a sombra de ti mesmo fora do CAMINHO, lançada sobre a escuridão dos teus pecados.
“Sim, Senhor, eu vejo o CAMINHO; vejo sua base na lama e o seu ponto mais alto que se perde na luz gloriosa do Nirvana. E agora vejo os Portais, sempre mais estreitos no caminho difícil e cheio de espinhos que vai até Jnana 12Conhecimento, Sabedoria..”
Tu vês corretamente, Lanu. Estes portais levam o aspirante a cruzar as águas “até a outra margem”. 13A “chegada à outra margem”, para os budistas do Norte, significa chegar ao Nirvana através do exercício das seis e das dez Paramitas (virtudes).
Cada Portal tem uma chave de ouro que abre o seu portão, e estas chaves são:
- DANA, a chave da caridade e do amor imortal.
- SHILA, a chave da Harmonia em palavra e ação, a chave que contrabalança a causa e o efeito, e não deixa mais espaço para a ação Cármica.
- KSHANTI, doce paciência que nada pode perturbar.
- VIRAGA, a indiferença em relação a prazer e dor, a vitória sobre a ilusão, a percepção apenas da verdade.
- VIRYA, a energia indômita que abre caminho desde a lama das mentiras terrestres até a suprema VERDADE.
- DHYANA, cujo portão dourado, uma vez aberto, leva o Narjol 14Um Santo, um Adepto.até o reino do Sat eterno e à sua contemplação incessante.
- PRAJNA, a chave que transforma um homem em um Deus, fazendo dele um Bodhisattva, um filho dos Dhyanis.
Estas são as chaves de ouro dos Portais.
Antes que possas chegar ao último Portal, ó tecedor da tua liberdade, tu tens que dominar ao longo do caminho difícil estas Paramitas da perfeição – as virtudes transcendentais que são seis e são dez.
Porque, ó Discípulo! Antes de estares preparado para encontrar o teu Instrutor frente a frente e para ver a luz do teu MESTRE, o que foi que te disseram?
Antes que tu possas aproximar-te do portal, tens que aprender a separar o teu corpo da tua mente, a dissipar a sombra, e viver no eterno. Para isso, tu deves viver e respirar em tudo, assim como tudo o que tu percebes respira em ti; deves sentir que vives em todas as coisas, e que todas as coisas vivem no SER.
Não permitas que os teus sentidos transformem a tua mente em um pátio de recreio.
Não separes o teu ser do SER, e do resto, mas mergulha o Oceano na gota, e a gota no Oceano.
Assim estarás em completa harmonia com tudo o que vive. Ama os seres humanos como se eles fossem teus colegas de aula, discípulos do mesmo Instrutor, filhos da mesma doce mãe.
Os professores são muitos; A ALMA-MESTRA é uma 15A ALMA-MESTRE é Alaya, a Alma Universal ou Atma Universal, e cada homem tem em si um raio dela, e é considerado capaz de identificar-se com ela e fundir-se com ela., Alaya, a Alma Universal. Vive nesta MESTRA, assim como o raio Dela vive em ti. Vive nos teus colegas, assim como eles vivem Nela.
Antes de estares no limiar do Caminho; antes de cruzares o principal Portão, tens que fundir os dois no Um, e sacrificar o que é pessoal ao EU impessoal, destruindo o “caminho” entre os dois – Antaskarana. 16Antaskarana é a mente inferior, o Caminho de comunicação ou comunhão entre a personalidade e Manas [mente] superior, ou Alma humana. Com a morte, Antaskarana é destruída como Caminho ou meio de comunicação, e os seus restos sobrevivem em uma forma como a do Kama-Rupa – a “casca”.
Tens que estar preparado para responder ao Dharma, a lei austera, cuja voz te perguntará, no teu passo primeiro e inicial:
“Tu cumpriste todas as regras, ó ser de esperanças elevadas?”
“Sintonizaste o teu coração e tua mente com a mente e o coração de toda a humanidade? Porque assim como a voz do Rio sagrado ruge fazendo ecoar todos os sons da natureza,17Os budistas do norte, assim como todos os chineses, na verdade, veem no rugir profundo de alguns dos rios grandes e sagrados a nota-chave da natureza. Daí esta imagem simbólica. É um fato bem conhecido na Física, como em Ocultismo, que o som agregado da natureza – tal como é ouvido no rugir de grandes rios, no barulho produzido pela ondulação dos topos das árvores nas grandes florestas, ou no barulho de uma cidade, ouvido a distância, é um tom único, definido, e de um diapasão bastante apreciável. Isso é mostrado por físicos e músicos. Assim, o professor Rice (em “Chinese Music”) mostra que os chineses conheciam este fato há milhares de anos atrás, ao dizer que “as águas do Huang Ho, passando apressadas, entoavam o kung”, que é “o grande tom” na música chinesa; e ele mostra este tom como correspondente com o F, “considerado pelos físicos modernos como o real padrão tônico da natureza”. O professor B. Silliman também menciona isso em sua obra “Principles of Physics”, dizendo que “este tom é considerado o F intermediário do piano; e pode, portanto, ser considerado como a nota-chave da natureza” assim também o coração daquele ‘que pretende entrar na corrente’ deve vibrar em consonância com cada suspiro e pensamento de tudo o que vive e respira”.
Os discípulos podem ser comparados às cordas da Vina, que ecoa a alma. A humanidade é como a sua caixa sonora; a mão que a toca é como o alento musical da GRANDE ALMA DO MUNDO. A corda que deixa de responder ao toque do Mestre em harmonia com todas as outras, se quebra – e é jogada fora. O mesmo ocorre com as mentes coletivas dos Lanus-Shrávakas. Eles têm que estar afinados com a mente do Upadhyaya – em unidade com a Alma Maior – ou afastar-se.
Isso é o que fazem os “Irmãos da Sombra” – os assassinos das suas próprias almas, o temido clã dos Dad-Dugpa.18Os Bhons ou Dugpas, a seita dos “gorros vermelhos”, são considerados os mais versados em feitiçaria. Eles habitam o Oeste do Tibete, o Pequeno Tibete e o Butão. Eles são todos tantrikas. É bastante ridículo ver orientalistas que visitaram as fronteiras do Tibete, como Schlagintweit e outros, confundindo os repugnantes ritos e práticas deles com as crenças religiosas dos Lamas do Leste, os de “gorros amarelos”, e os seus Narjols ou homens santos. Como um exemplo, veja a nota da p. 59, na edição em inglês da presente obra (Theosophy Co.), que diz o seguinte: “Dorje é o Vajra sânscrito, uma arma ou instrumento nas mãos de alguns deuses (os Dragshed tibetanos, os Devas que protegem os homens). Considera-se que ele tem o mesmo poder Oculto de repelir más influências – purificando o ar – que o ozônio, em química. É também um Mudra, um gesto e uma postura usados ao sentar em meditação. Ele constitui, em resumo, um símbolo de poder sobre más influências invisíveis, seja como uma postura ou como um talismã. Os Bhons ou Dugpas, no entanto, se apropriaram do símbolo e o usam para fins de magia negra. Entre os ‘Gorros Amarelos’, ou Gelugpas, ele é um símbolo de poder, assim como a cruz para os cristãos, e não é de modo algum mais supersticioso. Entreos Dugpas, ele é supersticioso, assim como o triângulo duplo reverso, um signo da feitiçaria.”
Tu colocaste o teu ser em sintonia com o grande sofrimento da Humanidade, ó candidato à luz?
Colocaste? . . . . . . Podes entrar. No entanto, antes de colocar o teu pé sobre o triste Caminho da Dor, é bom que aprendas primeiro sobre as armadilhas que há à tua frente.
Armado com a chave da Caridade, do amor e da terna misericórdia, estás seguro diante do portão de Dana, o portão que fica à entrada do CAMINHO.
Notas de Rodapé
- 1O “Caminho Aberto” e o “Caminho Secreto” – ou o caminho ensinado para o leigo, exotérico e que é aceito amplamente, e o Caminho Secreto – cuja natureza é explicada durante a Iniciação.
- 2Os homens que ignoram as verdades esotéricas e a Sabedoria Esotérica são chamados de “Mortos vivos”.
- 3Esta mesma reverência popular chama de Buddhas de Compaixão aqueles Bodhisattvas que, tendo alcançado o nível de um Arhat (isto é, tendo completado o quarto ou sétimo Caminho) , se recusam a passar para o estado nirvânico ou a “usar o manto de Dharmakaya e cruzar para a outra margem”, porque assim ficaria fora do seu alcance ajudar os homens, ainda que dentro do pouco que o Carma permite. Eles preferem permanecer invisivelmente presentes no mundo (em espírito, digamos) e contribuir para a salvação dos homens influenciando-os a seguir a Boa Lei, isto é, conduzindo-os pelo Caminho da Retidão. Faz parte do budismo exotérico do norte homenagear todos estes grandes personagens como Santos, e oferecer até mesmo orações a eles, assim como os gregos e os católicos fazem em relação a seus santos e protetores ; por outro lado, os ensinamentos esotéricos não aprovam tais práticas. Há uma grande diferença entre os dois ensinamentos. O leigo exotérico dificilmente conhece o verdadeiro significado da palavra Nirmanakaya – e isso explica a confusão e as explicações inadequadas dos Orientalistas. Por exemplo, Schlagintweit acredita que o corpo-Nirmanakaya significa a forma física adotada pelos Buddhas quando eles encarnam na terra – “o menos sublime dos seus fardos terrestres” (ver “Buddhism in Tibet”) – e ele prossegue construindo uma visão inteiramente falsa do assunto. O verdadeiro ensinamento, no entanto, é o seguinte. Os três corpos ou formas Búdicas são: Nirmanakaya. Sambhogakaya. Dharmakaya. A primeira é aquela forma etérea que o indivíduo assumiria quando, deixando o seu corpo físico, aparecesse em seu corpo astral – mas tendo por acréscimo todo o conhecimento de um Adepto. O Bodisattva desenvolve esta forma em si mesmo enquanto avança pelo Caminho. Tendo alcançado a meta e recusado tirar proveito dela, ele permanece na Terra como um Adepto; e quando morre, ao invés de ir ao Nirvana, ele permanece naquele corpo glorioso que teceu para si próprio, invisível para a humanidade não-iniciada, cuidando dela e protegendo-a. Sambhogakaya é o mesmo, mas com o esplendor adicional das “três perfeições”, uma das quais é a completa obliteração de toda preocupação terrestre. O corpo Dharmakaya é o corpo de um Buddha completo, isto é, não é corpo algum, mas um sopro ideal: Consciência unida Consciência Universal, ou Alma destituída de qualquer atributo. Uma vez que passa a ser um Dharmakaya, um Adepto ou Buddha deixa para trás toda possível relação com, ou pensamento em função de, esta terra. Assim, para tornar-se capaz de ajudar a humanidade, um Adepto que conquistou o direito ao Nirvana “renuncia ao corpo Dharmakaya”, na linguagem mística: ele mantém, do Sambhogakaya, apenas o grande e completo conhecimento, e permanece no seu corpo Nirmanakaya . A Escola Esotérica ensina que Gautama Buddha, com vários dos seus Arhats, é um destes Nirmanakayas, e que, devido à sua grande renúncia e ao seu sacrifício pela humanidade, não há nenhum mais elevado que ele.
- 4Os Pratyeka Buddhas são aqueles que se esforçam por obter, e frequentemente obtêm, o manto de Dharmakaya, depois de uma série de vidas. Completamente indiferentes aos sofrimentos da humanidade e à ideia de ajudá-la, mas dando atenção apenas à sua própria bem-aventurança, eles entram no Nirvana e – desaparecem da vista e dos corações dos homens. No budismo do Norte, “Pratyeka-Buddha” é sinônimo de egoísmo espiritual.
- 5Upadhyaya é um instrutor espiritual, um Guru. Os budistas do norte os escolhem geralmente entre os Narjol, os homens santos, conhecedores de gotrabhu-jnana e jnana-darshana-shuddhi, mestres da Sabedoria Secreta.
- 6Yana – veículo; assim, Mahayana é o “Grande Veículo” e Hinayana o “Pequeno Veículo”, os nomes das duas escolas de conhecimeento religioso e filosófico segundo o budismo do norte.
- 7Shrávaka – um ouvinte, um estudante que assiste às instruções religiosas. Da raiz “shru”. Quando ele vai da teoria para a prática do ascetismo, ele se torna um “praticante”, um shramana, de shrama, ação. Como Hardy demonstra, os dois termos correspondem às palavras akoustikoi e asketai dos gregos.
- 8Samtan (tibetano), o mesmo que o termo sânscrito Dhyana, ou o estado de meditação, do qual há quatro graus.
- 9Paramitas – as seis virtudes transcendentais; para os sacerdotes, há dez
- 10Srotapatti – (lit.) “aquele que entrou na corrente” que leva ao oceano nirvânico. Este termo indica o primeiro Caminho. O nome do segundo é o Caminho do Sakridagamin, “aquele que nascerá (só) mais uma vez”. O terceiro é chamado Anagamin, “aquele que não reencarnará mais”, a menos que queira renascer para ajudar a humanidade. O quarto Caminho é conhecimento como o Caminho do Rahat ou Arhat. Este é o mais alto. Um Arhat vê o Nirvana durante sua vida. Para ele não há estado pós-morte, mas sim um Samadhi, durante o qual ele vive a bem-aventurança nirvânica
- 11NOTA: Para ver até que ponto é impossível confiar nos orientalistas no que diz respeito aos nomes e significados exatos, basta examinar o caso de três “autoridades”. Os quatro termos recém-explicados são dados por R. Spence Hardy da seguinte maneira: 1) Sowan; 2) Sakradagami; 3) Anagami; 4) Árya. O rev. J. Edkins os apresenta como: 1) Srotapanna; 2) Sagardagam; 3) Anagamin; e 4) Arhan. Schlagintweit também os soletra de modo diferente, e cada autor, além disso, dá novas variações ao significado dos termos..
- 12Conhecimento, Sabedoria.
- 13A “chegada à outra margem”, para os budistas do Norte, significa chegar ao Nirvana através do exercício das seis e das dez Paramitas (virtudes).
- 14Um Santo, um Adepto.
- 15A ALMA-MESTRE é Alaya, a Alma Universal ou Atma Universal, e cada homem tem em si um raio dela, e é considerado capaz de identificar-se com ela e fundir-se com ela.
- 16Antaskarana é a mente inferior, o Caminho de comunicação ou comunhão entre a personalidade e Manas [mente] superior, ou Alma humana. Com a morte, Antaskarana é destruída como Caminho ou meio de comunicação, e os seus restos sobrevivem em uma forma como a do Kama-Rupa – a “casca”.
- 17Os budistas do norte, assim como todos os chineses, na verdade, veem no rugir profundo de alguns dos rios grandes e sagrados a nota-chave da natureza. Daí esta imagem simbólica. É um fato bem conhecido na Física, como em Ocultismo, que o som agregado da natureza – tal como é ouvido no rugir de grandes rios, no barulho produzido pela ondulação dos topos das árvores nas grandes florestas, ou no barulho de uma cidade, ouvido a distância, é um tom único, definido, e de um diapasão bastante apreciável. Isso é mostrado por físicos e músicos. Assim, o professor Rice (em “Chinese Music”) mostra que os chineses conheciam este fato há milhares de anos atrás, ao dizer que “as águas do Huang Ho, passando apressadas, entoavam o kung”, que é “o grande tom” na música chinesa; e ele mostra este tom como correspondente com o F, “considerado pelos físicos modernos como o real padrão tônico da natureza”. O professor B. Silliman também menciona isso em sua obra “Principles of Physics”, dizendo que “este tom é considerado o F intermediário do piano; e pode, portanto, ser considerado como a nota-chave da natureza”
- 18Os Bhons ou Dugpas, a seita dos “gorros vermelhos”, são considerados os mais versados em feitiçaria. Eles habitam o Oeste do Tibete, o Pequeno Tibete e o Butão. Eles são todos tantrikas. É bastante ridículo ver orientalistas que visitaram as fronteiras do Tibete, como Schlagintweit e outros, confundindo os repugnantes ritos e práticas deles com as crenças religiosas dos Lamas do Leste, os de “gorros amarelos”, e os seus Narjols ou homens santos. Como um exemplo, veja a nota da p. 59, na edição em inglês da presente obra (Theosophy Co.), que diz o seguinte: “Dorje é o Vajra sânscrito, uma arma ou instrumento nas mãos de alguns deuses (os Dragshed tibetanos, os Devas que protegem os homens). Considera-se que ele tem o mesmo poder Oculto de repelir más influências – purificando o ar – que o ozônio, em química. É também um Mudra, um gesto e uma postura usados ao sentar em meditação. Ele constitui, em resumo, um símbolo de poder sobre más influências invisíveis, seja como uma postura ou como um talismã. Os Bhons ou Dugpas, no entanto, se apropriaram do símbolo e o usam para fins de magia negra. Entre os ‘Gorros Amarelos’, ou Gelugpas, ele é um símbolo de poder, assim como a cruz para os cristãos, e não é de modo algum mais supersticioso. Entreos Dugpas, ele é supersticioso, assim como o triângulo duplo reverso, um signo da feitiçaria.”