3 Os Dois Caminhos

E agora, ó Mestre de Compaixão, mostra o caminho para os outros homens. Olha todos aqueles que, procurando admissão, esperam na ignorância e na escuridão para ver abrir-se o portão da Boa Lei!

A voz dos Candidatos:

Não irá você, Mestre da sua própria Compaixão, revelar a Doutrina do Coração? 1As duas escolas da doutrina de Buddha, a Esotérica e a Exotérica, são chamadas respectivamente de Doutrina do Coração e Doutrina do Olho. Na China – de onde os nomes chegaram ao Tibete – a Bodhidharma, religião da sabedoria, as qualificava de Tsung-Men (escola esotérica) e Kiau-men (escola exotérica). A primeira delas é chamada assim porque é o ensinamento que emanou do coração de Gautama Buddha, enquanto que a Doutrina do Olho foi o produto da sua cabeça ou cérebro. A Doutrina do Coração também é chamada de “selo da verdade”, ou “verdadeiro selo”, um símbolo encontrado na abertura de quase todas as obras esotéricas.

Diz o Mestre:

Os Caminhos são dois; as grandes Perfeições são três, seis são as Virtudes que transformam o corpo na Árvore do Conhecimento.2A “árvore do conhecimento” é um título dado pelos seguidores da Bodhidharma a aqueles que alcançaram o ponto mais alto do conhecimento místico – os Adeptos. Nagarjuna, o fundador da escola Madhyamika, era chamado de “Árvore do Dragão”, e o Dragão simboliza a Sabedoria e o Conhecimento. A árvore é homenageada porque foi sob a árvore de Bodhi (sabedoria) que Buddha recebeu o seu nascimento e a sua iluminação, pregou o seu primeiro sermão, e morreu.

Quem se aproximará deles?

Quem entrará primeiro neles?

Quem primeiro ouvirá a doutrina dos dois Caminhos em um, a verdade revelada sobre o Coração Secreto? 3O “Coração Secreto” é a Doutrina Esotérica. A Lei que – afastando-se da erudição – ensina a Sabedoria, revela uma história de sofrimento.

Ah, como é lamentável que todos os homens possuam Alaya e estejam em unidade com a Grande Alma, mas que, mesmo tendo Alaya, tirem dela um proveito tão pequeno!

Olha como, da mesma maneira que a lua se reflete nas ondas tranqüilas, Alaya é refletida pelo pequeno e pelo grande. Ela se espelha nos menores átomos, e, no entanto, não consegue alcançar o coração de todos. Ah, como é lamentável que tão poucos homens possam tirar proveito da dádiva, do presente de valor ilimitado que é a compreensão da verdade, a percepção correta das coisas existentes, e o conhecimento do não-existente!

Diz o discípulo:

Ó, Mestre, o que devo fazer para alcançar a Sabedoria?

Ó, Sábio, o que fazer para obter a perfeição?

Busca pelos Caminhos. Mas, ó Lanu, antes de começares a viagem, deves ter um coração puro. Antes de dares o teu primeiro passo, aprende a discernir o que é real do que é falso, o transitório do eterno. Aprende acima de tudo a ver a diferença entre o aprendizado mental e a sabedoria da Alma; entre a doutrina do “Olho” e a doutrina do “Coração”.

Sim, a ignorância é como um recipiente fechado e sem ar; a alma é como um pássaro preso. Ele não pode cantar, e nem sequer mover uma pena; o cantador fica imóvel e entorpecido, e morre de exaustão.

Mas mesmo a ignorância é melhor que um aprendizado mental sem a sabedoria da Alma para iluminá-lo e guiá-lo.

As sementes da Sabedoria não podem germinar e crescer num espaço sem ar. Para viver e colher experiência, a mente necessita de amplitude, de profundidade, e de pontos que a levem na direção da Alma de Diamante. 4A “Alma de Diamante”, Vajrasattva, um título do supremo Buddha, o “Senhor de todos os Mistérios”, chamado de Vajradhara e Adi-Buddha.Não procures tais pontos no reino de Maya; mas eleva-te acima das ilusões, e busca o eterno e imutável SAT 5SAT, a Realidade e Verdade única, Eterna e Absoluta, fora da qual tudo é ilusão., sem confiar nas falsas sugestões da fantasia.

Porque a mente é como um espelho; ela acumula pó enquanto reflete.6Conforme a doutrina de Shin-Sien, que ensina que a mente humana é como um espelho que atrai e reflete cada átomo de pó, e deve ser, tal como o espelho, observada e libertada de pó todos os dias. Shin-Sien foi o sexto Patriarca do Norte da China, e ensinou a doutrina Esotérica de Bodhidharma.Ela necessita a brisa suave da sabedoria da Alma para afastar o pó das nossas ilusões. Tenta, ó iniciante, unir tua Mente e tua Alma.

Evita a ignorância, e evita do mesmo modo a ilusão. Volta o teu rosto para longe dos enganos do mundo; desconfia dos teus sentidos; eles são falsos. Mas, dentro do teu corpo – o santuário das tuas sensações – procura, no Impessoal, pelo “Homem Eterno” 7O Eu que reencarna é chamado pelos budistas do norte de “verdadeiro homem”, que se torna, em união com o Eu Superior, um Buddha.; e, depois de localizá-lo, olha para o teu interior: tu és Buddha.8Veja a primeira nota de rodapé deste Fragmento II. O budismo exotérico das massas.

Evita o elogio, ó Devoto. O elogio leva à auto-ilusão. O teu corpo não é o seu Eu. O teu EU é em si mesmo destituído de corpo, e nem os elogios, nem as críticas, o afetam.

A vaidade, ó Discípulo, é como uma torre elevada à qual subiu um tolo arrogante. Lá ele se senta com solidão e orgulho, sem ser percebido por ninguém exceto por si mesmo.

O falso conhecimento é rejeitado pelo Sábio, e espalhado ao Vento pela Boa Lei. A roda da Boa Lei gira para todos, os humildes e os orgulhosos. A “doutrina do Olho” é para a multidão; a “doutrina do Coração”, para os eleitos. Os primeiros repetem, orgulhosamente: “Vejam, eu sei”. Os últimos, que fizeram sua colheita humildemente, confessam em voz baixa: “Isso é o que eu ouvi”.9Esta é a fórmula costumeira que antecede as escrituras budistas, e que significa que aquilo que se segue foi registrado pela tradição oral direta a partir de Buddha e dos Arhats.

“Grande Peneira” é o nome da “Doutrina do Coração”, ó Discípulo.

A roda da Boa Lei se movimenta rapidamente. Ela mói de dia e de noite. As cascas sem valor são levadas para longe do grão dourado; o dejeto é separado da farinha. A mão do Carma guia a roda; as voltas que ela dá marcam as batidas do coração cármico.

O verdadeiro conhecimento é a farinha, o falso conhecimento é a casca. Se queres comer o pão da sabedoria, a tua farinha deve ser amassada com as águas claras de Amrita.10A Imortalidade.Mas se tu amassas a casca com o orvalho de Maya, só poderás criar alimento para as pombas negras da morte, os pássaros do nascimento, da decadência e do sofrimento.

Se te disserem que para tornar-te um Arhan tu deves deixar de amar a todos os seres – diz a eles que eles mentem.

Se te disserem que para conquistar a libertação tu tens que odiar a tua mãe e descuidar do teu filho; rejeitar teu pai e chamá -lo de “dono de casa” 11Rathapala, o grande Arhat, se dirige da seguinte maneira a seu pai, na lenda chamada Rathapala Sutrasanne. Mas como todas lendas semelhantes são alegóricas (isto é, o pai de Rathapala tem uma mansão com sete portas) é necessária a advertência contra aqueles que aceitam as lendas literalmente., e renunciar ao sentimento de compaixão por todos os homens e animais – diz a eles que estão falando falsidades.

É assim que ensinam os Tirthikas, os descrentes.12Os ascetas brâmanes.

Se te ensinarem que o pecado é produzido pela ação e a bem-aventurança surge da absoluta inação, diz a eles que estão equivocados. A impermanência da ação humana; a libertação que a mente alcança da escravidão, através da cessação do pecado e dos erros, não são para os “Eus-Devas” 13O Eu que reencarna.. Assim afirma a “Doutrina do Coração”.

O Dharma do “Olho” é a corporificação do externo e do não-existente.

O Dharma do “Coração” é a corporificação de Bodhi 14A Sabedoria verdadeira e divina., o Permanente e o Eterno.

O Lampião brilha quando a mecha e o combustível estão limpos. Para torná -los limpos, é necessário um limpador. A chama não sente o processo da limpeza. “Os galhos de uma árvore são sacudidos pelo vento; o tronco permanece imóvel.”

Tanto a ação como a inação podem encontrar espaço em ti; o teu corpo agitado, tua mente tranquila, tua Alma tão límpida como um lago na montanha.

Queres tornar-te um Iogue do “Círculo do Tempo”? Então, ó Lanu:

Não creias que estar sentado em densas florestas, em orgulhoso retiro e afastado dos homens; não creias que viver comendo raízes e plantas, e matando a sede com a neve da grande Cordilheira – não creias, ó Devoto, que isso te levará à meta da libertação final.

Não penses que quebrar os ossos e rasgar a pele e os músculos te unirá ao “Eu silencioso”.15O “Eu Superior”, o sétimo princípioNão penses que quando os pecados da tua forma grosseira forem vencidos, ó Vítima das tuas Sombras 16Nossos corpos físicos são chamados de “Sombras” nas escolas místicas., o teu dever para com a natureza e a humanidade estará cumprido.

Os seres abençoados desdenharam fazer isso. O Leão da Lei, O Senhor da Compaixão 17Buddha., percebendo a verdadeira causa do sofrimento humano, abandonou de imediato o descanso agradável, mas egoísta, das calmas selvas. Deixando de ser um Aranyaka 18Uma floresta, um deserto. Aranyaka, um eremita que se retira para as selvas e vive em uma floresta, quando se torna um Iogue., Ele se tornou o Instrutor da humanidade. Depois que Julai 19Julai é o equivalente chinês do termo “Tathágata”, um título atribuído a cada Buddha.ingressou no Nirvana, ele pregou nas montanhas e na planície, e fez discursos nas cidades, a Devas homens e Deuses.20Todas as tradições do Norte e do Sul concordam ao afirmar que Buddha abandonou sua solidão assim que resolveu o problema da vida – isto é, assim que recebeu a iluminação interior – e passou a ensinar publicamente a humanidade.

Semeia ações amáveis e colherás os seus frutos. A omissão de um ato de compaixão equivale a cometer um pecado mortal.

Assim diz o Sábio.

Irás abster-te de agir? Não é assim que tua alma ganhará sua liberdade. Para alcançar o Nirvana é necessário obter o Autoconhecimento, e o Autoconhecimento é resultado de ações amáveis.

Deves ter paciência, Candidato, como alguém que não teme o fracasso nem busca o êxito. Fixa o olhar da tua Alma sobre a estrela cujo raio tu és 21Cada Eu espiritual é um raio de um “Espírito Planetário”, de acordo com o ensinamento esotérico., a estrela flamejante que brilha dentro das profundidades sem luz do ser-eterno, os campos sem limite do Desconhecido.

Deves ter perseverança como aquele que é capaz de tudo suportar eternamente. As tuas sombras vivem e desaparecem 22As personalidades ou corpos físicos são chamados de “sombras” e são evanescentes.; aquilo que em ti viverá para sempre, aquilo que em ti sabe, porque é feito de

conhecimento 23A Mente (Manas), o princípio pensante ou Eu no homem, é mencionado como “Conhecimento”, porque os Eus são chamados Manasa-putras, os filhos da Mente (universal)., não pertence à vida passageira. Este é o Homem que foi, que é, e será, para o qual nunca chegará a hora final.

Se queres colher uma paz e um descanso agradáveis, Discípulo, semeia com as sementes do mérito os campos das colheitas futuras. Aceita as angústias do nascimento.

Sai da luz solar e fica na sombra, abrindo espaço para outros. As lágrimas que molham o solo árido da dor e do sofrimento produzem as flores e os frutos da retribuição cármica. Desde a fornalha da vida humana, e da sua fumaça, surgem chamas que têm asas, chamas purificadas que se elevam e avançam sob a visão Cármica, e que tecem, finalmente, o tecido glorioso das três vestimentas do Caminho.24Veja a nota de pé de página número 138.

Estas vestimentas são: Nirmanakaya, Sambhogakaya e Dharmakaya, o manto sublime.25Veja a mesma nota de pé de página número 138.

O manto Shangna 26O manto Shangna, de Shangnavesu de Rajagriha, o terceiro grande Arhat ou “Patriarca”, como os orientalistas chamam a hierarquia dos trinta e três Arhats que disseminaram o budismo. “Manto Shangna” significa, metaforicamente, a aquisição da Sabedoria com a qual o Nirvana da destruição (da personalidade) é alcançado. Literalmente, é o “manto da iniciação” dos neófitos. Edkins afirma que esta “roupa feita de grama” foi trazido à China desde o Tibete na dinastia Tong. “Quando um Arhan nasce, esta planta é vista crescendo em um lugar limpo”, diz a lenda chinesa e também tibetana., é verdade, pode adquirir a luz eterna. O manto Shangna só garante o Nirvana da destruição; ele interrompe o renascimento, mas, ó Lanu, ele também mata a compaixão. Assim os Buddhas perfeitos, que dominam a glória de Dharmakaya, já não podem ajudar a salvação humana. Ah! será que os EUS serão sacrificados pelo Eu; e a humanidade, pelo bem-estar de alguns?

Deves saber, ó iniciante, que este é o CAMINHO Aberto, o caminho da bem-aventurança egoísta, rejeitado pelos Bodhisattvas do “Coração Secreto”, os Buddhas da Compaixão.

Viver para beneficiar a humanidade é o primeiro passo. Praticar as seis virtudes 27“Praticar o Caminho das Paramitas” significa tornar-se um iogue com a intenção de ser um asceta.é o segundo.

Vestir o manto humilde de Nirmanakaya é renunciar à bem-aventurança eterna do Eu, para ajudar na salvação do homem. Alcançar a bem-aventurança do Nirvana e renunciar a ela é o passo supremo, o mais alto, no Caminho da Renúncia.

Deves saber, ó Discípulo, que este é o CAMINHO Secreto, escolhido pelos Buddhas da Perfeição, que sacrificaram o EU para beneficiar os Eus mais fracos.

No entanto, se a “Doutrina do Coração” é excessivamente elevada para ti, se necessitas ajudar a ti próprio e tens medo de oferecer ajuda a outros – então, tu, que tens um coração tímido, deves ser alertado a tempo: fica contente com a “Doutrina do Olho” a respeito da Lei. Deves ter esperança, ainda assim. Porque se o “Caminho Secreto” é inatingível neste “dia”, ele estará ao teu alcance “amanhã” 28“Amanhã” significa o próximo renascimento ou reencarnação..

Deves saber que nenhum esforço, nem o menor deles – seja na direção correta ou na direção errada – pode ser apagado do mundo das causas. Nem a fumaça dispersa fica sem vestígios. “Uma palavra ríspida dita em vidas passadas não é destruída, mas volta sempre de novo.” 29Dos preceitos da Escola Prasanga. A planta da pimenta não fará com que nasçam rosas, nem a delicada estrela de prata do jasmim se transformará em espinho ou cardo.

Tu podes criar neste “dia” as tuas possibilidades para o teu “amanhã”. Na “Grande Jornada” 30“Grande Jornada” é o ciclo completo de existências, em uma “Ronda”., as causas plantadas a cada hora produzem, cada uma, a sua colheita de efeitos; porque uma rígida Justiça rege o Mundo. Com o impulso poderoso de uma ação que jamais erra, ela traz vidas de felicidade ou de sofrimento para os mortais, resultados cármicos de todos os nossos pensamentos e ações anteriores.

Recebe, pois, aquilo que o mérito guardou para ti, ó tu que tens coração paciente. Preserva a boa disposição e permanece contente com o destino. Este é o teu Carma, o Carma do ciclo dos teus nascimentos, o destino daqueles que, em sua dor e seu sofrimento, nascem junto contigo, se alegram e choram uma vida após a outra, acorrentados às tuas ações prévias.

……………………………………………

Age por eles “hoje”, e eles irão agir por ti “amanhã”.

É do germinar da renúncia do Eu que surge o doce fruto da Libertação final.

Está condenado a perecer aquele que, por medo de Mara, evita ajudar o ser humano para não atuar em função do Eu. O peregrino que deseja resfriar seus membros exaustos em águas correntes mas não ousa fazer isso, por temor da correnteza, corre o risco de sucumbir pelo calor. A inação cuja base é o medo egoísta só pode produzir maus frutos.

O devoto egoísta vive sem um propósito. O homem que não enfrenta o trabalho designado para ele na vida – vive em vão.

Segue a roda da vida; segue a roda do dever para com a raça humana e a tua família, para com os amigos e os inimigos, e fecha a tua mente para o prazer e o sofrimento. Faz com que se esgote a lei da retribuição cármica. Obtém siddhis para o teu futuro nascimento.

Se não podes ser o Sol, então deves ser um humilde planeta. Sim, se não podes brilhar como o Sol do meio -dia sobre a montanha nevada da pureza eterna, então, ó neófito, deves escolher uma trajetória mais humilde.

Aponta o “Caminho” – ainda que palidamente e perdido na multidão – assim como faz a estrela vespertina para aqueles que avançam no escuro.

Observa Migmar 31Marte.enquanto, sob os seus véus vermelhos, o seu “Olho” percorre a Terra adormecida. Vê a aura ígnea da “Mão” de Lhagpa 32Mercúrio.estendida para proteger amorosamente as cabeças dos seus

ascetas. Ambos são agora servidores de Nyima 33O Sol. Nyima, o Sol na astrologia tibetana. Migmar ou Marte é simbolizado por um “Olho”, e Lhagpa ou Mercúrio por uma “Mão”., deixados em sua ausência como observadores silenciosos na noite. No entanto, em Kalpas passados, ambos foram Nyimas brilhantes, e em “Dias” futuros poderão tornar-se novamente dois Sóis. São assim as ascensões e as quedas provocadas pela Lei Cármica na natureza.

Deves ser como eles, ó Lanu. Dá luz e conforto para o peregrino que se esforça, e procura por aquele que sabe ainda menos que tu; aquele que em completa desolação aguarda faminto pelo pão da Sabedoria e pelo pão que alimenta a sombra, sem um Instrutor, sem esperança ou consolação – e faz com que ele escute a Lei.

Diz a ele, ó Candidato, que quem faz do orgulho e do amor próprio escravos da devoção, quem, agarrando-se à existência, ainda assim coloca sua paciência e sua submissão a serviço da Lei, como uma doce flor colocada aos pés de Shakya-Thub-pa 34Buddha., se torna um Srotapatti 35Srotapatti, ou “aquele que entra na corrente” do Nirvana. A menos que ele alcance a meta devido a alguma razão extraordinária, ele raramente poderá alcançar o Nirvana em um só nascimento. Usualmente se diz que um Chela começa o esforço de subida em uma vida e o conclui ou alcança a meta apenas no sétimo nascimento sucessivo.neste nascimento. Os Siddhis da perfeição podem estar muito, muito longe; mas o primeiro passo foi dado, ele entrou na corrente e pode obter a visão da águia da montanha, e a audição da tímida lebre.

Diz a ele, ó Aspirante, que a verdadeira devoção pode dar-lhe de novo o conhecimento, aquele conhecimento que foi dele em dias anteriores. A visão de um deva e a audição de um deva não são obtidas em um curto nascimento.

Deves ser humilde, se queres alcançar a Sabedoria.

Deves ser mais humilde ainda, depois que tiveres a Sabedoria sob teu domínio.

Deves ser como o Oceano, que recebe todas as correntes e rios. A poderosa calma do Oceano permanece inalterável; ele não os sente.

Restringe teu eu inferior pelo teu eu Divino.

Restringe o Divino pelo que é Eterno.

Ah, grande é aquele que matou o desejo.

Ainda maior é aquele em quem o Eu Divino matou o próprio conhecimento do que é desejo.

Vigia o Inferior para que ele não rebaixe o Mais Alto.

O caminho para a libertação final está dentro do teu EU.

O caminho começa e termina fora do Eu.36Referência ao “eu” inferior e pessoal.

Não elogiada pelos homens e humilde é a mãe de todos os rios, segundo a visão orgulhosa do Tirthika 37Um asceta brâmane que visita santuários sagrados, especialmente locais de banhos purificadores. Ainda que esteja cheia das águas doces de Amrita, a forma humana é vazia de acordo com a visão dos tolos. Contudo, o lugar de nascimento dos grandes rios é a terra sagrada 38Os Tirthikas são os seguidores das seitas bramânicas “mais além” dos Himalaias, que são chamados de “infieis” pelos budistas da Terra Sagrada, Tibete, e vice-versa., e aquele que tem Sabedoria é honrado por todos os homens.

Os Arhans e os Sábios de Visão ilimitada 39Visão ilimitada ou visão psíquica, visão sobre-humana. A um Arhan se atribui a capacidade de “ver” e saber tudo, tanto a distância quanto presencialmente.são raros como a flor da árvore Udumbara. Os Arhans nascem à meia -noite, junto com a planta sagrada de nove e sete cetros 40A planta Shangna. Veja sobre este ponto a nota de um trecho anterior: “O manto Shangna, de Shangnavesu de Rajagriha, o terceiro grande Arhat ou ‘Patriarca’, como os orientalistas chamam a hierarquia dos trinta e três Arhats que disseminaram o budismo. ‘Manto Shangna’ significa, metaforicamente, a aquisição da Sabedoria com a qual o Nirvana da destruição (da personalidade) é alcançado. Literalmente, é o ‘manto da iniciação’ dos neófitos. Edkins afirma que esta ‘roupa feita de grama’ foi trazido à China desde o Tibete na dinastia Tong. ‘Quando um Arhan nasce, esta planta é vista crescendo em um lugar limpo’, diz a lenda chinesa e também tibetana.”, a flor sagrada que se abre e se desenvolve no escuro, a partir do puro orvalho e sobre a base congelada das altitudes cobertas de neve, em alturas que o pé de um pecador não pode pisar.

Não é possível, ó Lanu, tornar-se um Arhan no mesmo nascimento em que a Alma começa a ter um desejo profundo pela libertação final. Ó ser ansioso, nenhum guerreiro que se oferece para viver a batalha intensa entre o vivo e o morto 41O “vivo” é o Eu Superior imortal, e o “morto” – o Eu inferior pessoal., nenhum recruta pode jamais ver rejeitado o seu direito de entrar no Caminho que leva ao campo de Batalha.

Porque ou ele vencerá, ou cairá.

Sim, se ele vencer, o Nirvana será seu. Antes que ele abandone a sombra do seu veículo mortal, aquela fonte fecunda de angústia e dor ilimitada – nele os homens homenagearão um grande e sagrado Buddha.

E se ele cair, ainda assim não cairá em vão; os inimigos que ele matou na última batalha não voltarão à vida no seu próximo nascimento.

Mas se quiseres alcançar o Nirvana, ou deixar de lado o prêmio 42Veja a nota de pé de página número 138., não deixa que a tua meta seja o fruto da ação e da inação, ó ser de coração destemido.

Deves saber, ó candidato à dor ao longo dos ciclos, que o Bodhisattva que troca a Libertação pela Renúncia para assumir os sofrimentos da “Vida Secreta” 43A “Vida Secreta” é a vida como um Nirmanakaya.é chamado de “três vezes Honrado”.

Notas de Rodapé

  • 1
    As duas escolas da doutrina de Buddha, a Esotérica e a Exotérica, são chamadas respectivamente de Doutrina do Coração e Doutrina do Olho. Na China – de onde os nomes chegaram ao Tibete – a Bodhidharma, religião da sabedoria, as qualificava de Tsung-Men (escola esotérica) e Kiau-men (escola exotérica). A primeira delas é chamada assim porque é o ensinamento que emanou do coração de Gautama Buddha, enquanto que a Doutrina do Olho foi o produto da sua cabeça ou cérebro. A Doutrina do Coração também é chamada de “selo da verdade”, ou “verdadeiro selo”, um símbolo encontrado na abertura de quase todas as obras esotéricas.
  • 2
    A “árvore do conhecimento” é um título dado pelos seguidores da Bodhidharma a aqueles que alcançaram o ponto mais alto do conhecimento místico – os Adeptos. Nagarjuna, o fundador da escola Madhyamika, era chamado de “Árvore do Dragão”, e o Dragão simboliza a Sabedoria e o Conhecimento. A árvore é homenageada porque foi sob a árvore de Bodhi (sabedoria) que Buddha recebeu o seu nascimento e a sua iluminação, pregou o seu primeiro sermão, e morreu.
  • 3
    O “Coração Secreto” é a Doutrina Esotérica.
  • 4
    A “Alma de Diamante”, Vajrasattva, um título do supremo Buddha, o “Senhor de todos os Mistérios”, chamado de Vajradhara e Adi-Buddha.
  • 5
    SAT, a Realidade e Verdade única, Eterna e Absoluta, fora da qual tudo é ilusão.
  • 6
    Conforme a doutrina de Shin-Sien, que ensina que a mente humana é como um espelho que atrai e reflete cada átomo de pó, e deve ser, tal como o espelho, observada e libertada de pó todos os dias. Shin-Sien foi o sexto Patriarca do Norte da China, e ensinou a doutrina Esotérica de Bodhidharma.
  • 7
    O Eu que reencarna é chamado pelos budistas do norte de “verdadeiro homem”, que se torna, em união com o Eu Superior, um Buddha.
  • 8
    Veja a primeira nota de rodapé deste Fragmento II. O budismo exotérico das massas.
  • 9
    Esta é a fórmula costumeira que antecede as escrituras budistas, e que significa que aquilo que se segue foi registrado pela tradição oral direta a partir de Buddha e dos Arhats.
  • 10
    A Imortalidade.
  • 11
    Rathapala, o grande Arhat, se dirige da seguinte maneira a seu pai, na lenda chamada Rathapala Sutrasanne. Mas como todas lendas semelhantes são alegóricas (isto é, o pai de Rathapala tem uma mansão com sete portas) é necessária a advertência contra aqueles que aceitam as lendas literalmente.
  • 12
    Os ascetas brâmanes.
  • 13
    O Eu que reencarna.
  • 14
    A Sabedoria verdadeira e divina.
  • 15
    O “Eu Superior”, o sétimo princípio
  • 16
    Nossos corpos físicos são chamados de “Sombras” nas escolas místicas.
  • 17
    Buddha.
  • 18
    Uma floresta, um deserto. Aranyaka, um eremita que se retira para as selvas e vive em uma floresta, quando se torna um Iogue.
  • 19
    Julai é o equivalente chinês do termo “Tathágata”, um título atribuído a cada Buddha.
  • 20
    Todas as tradições do Norte e do Sul concordam ao afirmar que Buddha abandonou sua solidão assim que resolveu o problema da vida – isto é, assim que recebeu a iluminação interior – e passou a ensinar publicamente a humanidade.
  • 21
    Cada Eu espiritual é um raio de um “Espírito Planetário”, de acordo com o ensinamento esotérico.
  • 22
    As personalidades ou corpos físicos são chamados de “sombras” e são evanescentes.
  • 23
    A Mente (Manas), o princípio pensante ou Eu no homem, é mencionado como “Conhecimento”, porque os Eus são chamados Manasa-putras, os filhos da Mente (universal).
  • 24
    Veja a nota de pé de página número 138.
  • 25
    Veja a mesma nota de pé de página número 138.
  • 26
    O manto Shangna, de Shangnavesu de Rajagriha, o terceiro grande Arhat ou “Patriarca”, como os orientalistas chamam a hierarquia dos trinta e três Arhats que disseminaram o budismo. “Manto Shangna” significa, metaforicamente, a aquisição da Sabedoria com a qual o Nirvana da destruição (da personalidade) é alcançado. Literalmente, é o “manto da iniciação” dos neófitos. Edkins afirma que esta “roupa feita de grama” foi trazido à China desde o Tibete na dinastia Tong. “Quando um Arhan nasce, esta planta é vista crescendo em um lugar limpo”, diz a lenda chinesa e também tibetana.
  • 27
    “Praticar o Caminho das Paramitas” significa tornar-se um iogue com a intenção de ser um asceta.
  • 28
    “Amanhã” significa o próximo renascimento ou reencarnação.
  • 29
    Dos preceitos da Escola Prasanga.
  • 30
    “Grande Jornada” é o ciclo completo de existências, em uma “Ronda”.
  • 31
    Marte.
  • 32
    Mercúrio.
  • 33
    O Sol. Nyima, o Sol na astrologia tibetana. Migmar ou Marte é simbolizado por um “Olho”, e Lhagpa ou Mercúrio por uma “Mão”.
  • 34
    Buddha.
  • 35
    Srotapatti, ou “aquele que entra na corrente” do Nirvana. A menos que ele alcance a meta devido a alguma razão extraordinária, ele raramente poderá alcançar o Nirvana em um só nascimento. Usualmente se diz que um Chela começa o esforço de subida em uma vida e o conclui ou alcança a meta apenas no sétimo nascimento sucessivo.
  • 36
    Referência ao “eu” inferior e pessoal.
  • 37
    Um asceta brâmane que visita santuários sagrados, especialmente locais de banhos purificadores.
  • 38
    Os Tirthikas são os seguidores das seitas bramânicas “mais além” dos Himalaias, que são chamados de “infieis” pelos budistas da Terra Sagrada, Tibete, e vice-versa.
  • 39
    Visão ilimitada ou visão psíquica, visão sobre-humana. A um Arhan se atribui a capacidade de “ver” e saber tudo, tanto a distância quanto presencialmente.
  • 40
    A planta Shangna. Veja sobre este ponto a nota de um trecho anterior: “O manto Shangna, de Shangnavesu de Rajagriha, o terceiro grande Arhat ou ‘Patriarca’, como os orientalistas chamam a hierarquia dos trinta e três Arhats que disseminaram o budismo. ‘Manto Shangna’ significa, metaforicamente, a aquisição da Sabedoria com a qual o Nirvana da destruição (da personalidade) é alcançado. Literalmente, é o ‘manto da iniciação’ dos neófitos. Edkins afirma que esta ‘roupa feita de grama’ foi trazido à China desde o Tibete na dinastia Tong. ‘Quando um Arhan nasce, esta planta é vista crescendo em um lugar limpo’, diz a lenda chinesa e também tibetana.”
  • 41
    O “vivo” é o Eu Superior imortal, e o “morto” – o Eu inferior pessoal.
  • 42
    Veja a nota de pé de página número 138.
  • 43
    A “Vida Secreta” é a vida como um Nirmanakaya.
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