“O Senhor Bendito disse:
“Esse corpo, ó filho de Kuntī, é chamado de Kṣetra.
Aquele que o conhece, os eruditos chamam de Kṣetrajña.
Conhece-me, ó Bhārata, como Kṣetras. O conhecimento de Kṣetra e Kṣetrajña eu considero como (verdadeiro) conhecimento. O que aquele Kṣetra (é), e ao que (ele é) similar, e quais mudanças ele sofre, e de onde (ele vem), o que é ele (o Kṣetrajña), e quais são seus poderes, ouve de mim em poucas palavras.
Tudo isso tem sido cantado separadamente de muitas maneiras por Ṛṣis em vários versos, em textos bem assentados repletos de bom senso e dando indicações de Brahman.
Os grandes elementos, egoísmo, intelecto, o imanifesto (isto é, Prakṛti), também os dez sentidos, o único (manas), os cinco objetos dos sentidos, desejo, aversão, prazer, dor, consciência do corpo, coragem, tudo isso em resumo é declarado como Kṣetra em sua forma modificada.
Ausência de vaidade, ausência de ostentação, abstenção de ferir, perdão, retidão, devoção ao preceptor, pureza, constância, autodomínio, indiferença pelos objetos dos sentidos, ausência de egoísmo, percepção da miséria e mal de nascimento, morte, velhice e doença, liberdade de apego, ausência de afinidade por filho, esposa, casa, e o resto, e constante equanimidade de coração na obtenção de bem e mal, devoção inabalável a mim sem meditação em qualquer coisa mais, frequentação de lugares solitários, aversão por multidão de homens, constância no conhecimento da relação do ser individual com o supremo, percepção do objetivo do conhecimento da verdade,1Que é a dissipação da ignorância e a aquisição de felicidade. tudo isso é chamado de Conhecimento; tudo aquilo que é contrário a isso é Ignorância.
Aquilo que é o objeto de conhecimento eu (agora) declararei (para ti), conhecendo o qual uma pessoa obtém imortalidade. [Ele é] o Brahma Supremo que não tem início, que é citado como não sendo nem existente nem inexistente; cujas mãos e pés estão em toda parte, cujos olhos, cabeças e rostos estão em toda parte, que vive permeando tudo no mundo, que é possuidor de todas as qualidades dos sentidos (embora) desprovido de sentidos, sem ligação (contudo) sustentando todas as coisas, sem atributos (porém) desfrutando de todos os atributos;2Não tendo olhos, etc., porém vendo, etc., sem atributos, contudo tendo ou desfrutando de tudo o que os atributos dão. fora e dentro de todas as criaturas, imóvel e móvel, não conhecível por causa de (sua) sutileza, distante porém perto, não distribuído em todos os seres, (contudo) permanecendo como se distribuído, que é o sustentador de (todos os) seres, o que absorve e cria (tudo); que é a luz de todos os corpos luminosos, que é citado como estando além de toda escuridão; que é conhecimento, o Objeto de conhecimento, o Fim do conhecimento e situado nos corações de todos.
Assim Kṣetra, e o Conhecimento, e o Objeto de Conhecimento, foram declarados (para ti) em resumo. O meu devoto, sabendo (tudo) isso, torna-se uno em espírito comigo. Sabe que Natureza (Prakṛti, a matéria primordial) e Espírito (Puruṣa, o princípio ativo) são ambos sem início (e) sabe (também) que todas as modificações e todas as qualidades provêm da Natureza. A Natureza é citada como a fonte da capacidade de desfrutar de prazeres e dores. Pois o Espírito, residindo na natureza desfruta das qualidades nascidas da Natureza. A causa de seus nascimentos em úteros bons e maus é a (sua) conexão com as qualidades.3É o espírito incorporado somente que pode desfrutar das qualidades da Natureza. Então, o tipo de conexão que ele tem com aquelas qualidades determina seu nascimento em bons e maus úteros.
O Puruṣa Supremo nesse corpo é citado como o avaliador, aprovador, sustentador, desfrutador, o senhor poderoso, e também a Alma Suprema.
Aquele que conhece dessa maneira Espírito, e Natureza, com as qualidades, em qualquer estado que ele possa estar, nunca nasce novamente. Alguns por meditação contemplam o eu no eu por meio do eu; outros por devoção segundo o sistema Sāṃkhya; e outros (também), por devoção através de obras.
Outros ainda não conhecendo isso, veneram, ouvindo sobre isso de outros. Mesmo esses, devotados ao que é ouvido,4As Śrutis ou doutrinas sagradas vencem a morte.
Qualquer ente, imóvel ou móvel, que nasce, sabe que, ó touro da raça Bharata, é proveniente da conexão de Kṣetra e Kṣetrajña (matéria e espírito).
Aquele que vê o Senhor Supremo morando igualmente em todos os seres, (vê) o Imperecível no Perecível. Pois vendo o Senhor residindo igualmente em todos os lugares, uma pessoa não destrói a si mesma por si mesma,5Não fica desprovida do verdadeiro conhecimento. e então alcança a meta mais elevada. Vê (realmente) quem vê que todas as ações são feitas pela natureza somente de todas as maneiras e igualmente que o eu não é o fazedor.
Quando alguém vê a diversidade de entidades como existente em uma, e a emissão (de tudo) daquela (Uma), então ele é citado como tendo alcançado Brahma.
Esse Ser Supremo inexaurível, ó filho de Kuntī, sendo sem início e sem atributos, não age, nem é maculado mesmo quando colocado no corpo. Como o espaço, que é onipresente, nunca é manchado, por sua sutileza, assim a alma, posicionada em todo corpo, nunca é maculada. Como o único Sol ilumina o mundo inteiro, assim o Espírito, ó Bhārata, ilumina toda (a esfera das) matérias.
Aqueles que, pela visão do conhecimento, conhecem a diferença entre matéria e espírito, e a libertação da natureza de todas as entidades, alcançam o Supremo.”
Notas de Rodapé
- 1Que é a dissipação da ignorância e a aquisição de felicidade.
- 2Não tendo olhos, etc., porém vendo, etc., sem atributos, contudo tendo ou desfrutando de tudo o que os atributos dão.
- 3É o espírito incorporado somente que pode desfrutar das qualidades da Natureza. Então, o tipo de conexão que ele tem com aquelas qualidades determina seu nascimento em bons e maus úteros.
- 4As Śrutis ou doutrinas sagradas
- 5Não fica desprovida do verdadeiro conhecimento.