1 Livro dos Preceitos de Ouro.

Palavras de Helena Petrovna Blavatsky.

As páginas que se seguem têm como origem o Livro dos Preceitos de Ouro, uma das obras que são colocadas nas mãos dos estudantes místicos do Oriente. O conhecimento destas páginas é obrigatório naquela Escola cujos ensinamentos são aceitos por muitos teosofistas. Portanto, como conheço de memória muitos destes Preceitos, o trabalho de traduzi-los foi uma tarefa relativamente fácil para mim.

  • bem sabido que, na Índia, os métodos de desenvolvimento psíquico diferem de acordo com os Gurus (professores ou mestres), não só porque eles pertencem a diferentes escolas de filosofia, das quais existem seis, mas também porque cada Guru tem o seu próprio sistema e o mantém em grande segredo. Porém do outro lado dos Himalaias o método das Escolas Esotéricas não difere, a menos que o Guru seja simplesmente um Lama, e tenha poucos conhecimentos mais do que aqueles a quem ensina.

A obra da qual eu traduzo o material aqui publicado faz parte da mesma série de que foram tiradas as “Estâncias” do Livro de Dzyan, e nas quais se baseia a Doutrina Secreta. Assim como a grande obra mística chamada Paramartha − que, segundo conta a lenda de Nagarjuna, foi dada ao grande Arhat pelos Nagas ou “Serpentes” (na verdade um termo usado para designar os antigos Iniciados) −, o Livro dos Preceitos de Ouro reivindica a mesma origem. No entanto, as suas máximas e suas ideias,embora sejam nobres e originais, são frequentemente encontradas sob diferentes formas em obras sânscritas como o Dnyaneshvari, aquele esplêndido tratado místico no qual Krishna descreve para Arjuna, em cores brilhantes, o estado de um Iogue plenamente iluminado; e também em certos Upanixades. Isto é bastante natural, já que a maior parte, se não a totalidade dos grandes Arhats − os primeiros seguidores de Gautama Buddha − eram hindus e arianos, não mongóis, especialmente os que emigraram para o Tibete. Só as obras deixadas por Aryasangha já são muito numerosas.

Os Preceitos originais estão gravados em finas folhas ou lâminas oblongas; as cópias são feitas, com muita frequência, em discos. Estes discos, ou chapas, são geralmente preservados nos altares dos templos que existem junto aos centros onde as Escolas chamadas de contemplativas, ou Mahayana (Yogacharya), estão estabelecidas. Os Preceitos são escritos de várias maneiras, às vezes em tibetano, e na maior parte dos casos em escrita ideográfica. A língua sacerdotal (Senzar), além de possuir o seu próprio alfabeto, também pode ser usada em vários tipos de escrita, em símbolos cifrados que parecem mais ideogramas do que sílabas. Outro método (lug, em tibetano) consiste em usar algarismos e cores, cada um dos quais corresponde a uma letra do alfabeto tibetano (trinta letras simples, e setenta e quatro letras compostas), formando-se assim um alfabeto criptográfico completo. Quando são usados os ideogramas, há um modo definido de ler o texto, porque, neste caso, os símbolos e sinais usados em astrologia − isto é, os doze animais do zodíaco e as sete cores primárias, cada uma delas com três tonalidades, a mais clara, a básica e a mais escura − correspondem às trinta e três letras do alfabeto simples, para as palavras e as frases. Por isso, neste método, os doze “animais”, repetidos cinco vezes e associados aos cinco elementos e às sete cores, formam um alfabeto inteiro, composto de sessenta letras sagradas e doze signos. Um sinal, colocado no início do texto, determina se o leitor deve formar as palavras do modo indiano, segundo o qual cada palavra é simplesmente uma adaptação do sânscrito, ou de acordo com o princípio chinês da leitura por ideogramas. A maneira mais fácil, no entanto, é a que permite ao leitor não usar nenhuma língua em especial, ou usar qualquer língua, já que os sinais e símbolos eram, assim como os números ou algarismos arábicos, propriedade comum e internacional dos místicos iniciados e os seus seguidores. A mesma peculiaridade é característica de um dos modos chineses de escrever, que pode ser lido com igual facilidade por qualquer um que esteja familiarizado com o símbolo: por exemplo, um japonês pode lê-lo em sua própria língua, assim como um chinês o lê com igual facilidade em seu idioma.

O Livro de Preceitos de Ouro − alguns dos quais são pré-budistas enquanto outros pertencem a uma data posterior − contém cerca de noventa diferentes tratados pequenos. Destes, eu memorizei trinta e nove, alguns anos atrás. Para traduzir o resto, eu teria que recorrer a notas espalhadas por um número excessivamente grande de papéis e memorandos reunidos durante os últimos vinte anos e que nunca foram colocados em ordem, para que a tarefa se tornasse pelo menos um pouco mais fácil. Além disso, nem todos eles poderiam ser traduzidos para um mundo tão egoísta e tão apegado aos objetos dos sentidos que não está preparado, de modo algum, para receber do modo correto uma ética tão elevada. Porque, a menos que o homem persevere seriamente na busca do autoconhecimento, ele jamais ouvirá com boa vontade conselhos desta natureza.

E, no entanto, esta ética ocupa volumes e volumes da literatura oriental, especialmente nos Upanishads.

“Mate o desejo de viver”, diz Krishna a Arjuna. Este desejo se concentra apenas no corpo, o veículo do

eu materializado, e não do EU que é “eterno, indestrutível, que não mata nem pode ser morto”

(Katopanishad). “Mate a sensação”, ensina o Sutta Nipata; “olhe do mesmo modo para o prazer e a

dor, o ganho e a perda, a vitória e a derrota.” E ainda: “Busque refúgio apenas no Eterno” (ibid).

“Destrua o sentido de separatividade”, repete Krishna de muitas maneiras diferentes. “A mente

(Manas) que segue os sentidos oscilantes torna a alma (Buddhi) tão indefesa quanto o barco que o

vento leva à deriva pelas águas.” (Bhagavad Gita, cap. II)

Portanto, foi considerado mais correto fazer apenas uma seleção sábia daqueles tratados que serão mais úteis para os poucos realmente místicos da Sociedade Teosófica, e que irão, certamente, atender às necessidades deles. Só eles serão capazes de apreciar estas palavras de Krishna-Cristos, o “Eu Superior”:

“Os sábios não se preocupam nem pelos vivos nem pelos mortos. Eu nunca deixei de existir, nem você, nem estes líderes dos homens. Nenhum de nós jamais deixará de existir.” (Bhagavad Gita, cap. II)

Nesta tradução, fiz o melhor que pude para preservar a beleza poética da linguagem simbólica que caracteriza o original. Cabe ao leitor avaliar até que ponto o esforço foi bem sucedido.

“H.P.B.”, 1889.

Estas instruções são para aqueles que ignoram os perigos dos IDDHI inferiores.1A palavra páli Iddhi é sinônimo do termo sânscrito Siddhi, e se refere às faculdades psíquicas, os poderes anormais no homem. Há dois tipos de Siddhis. Um grupo abrange as energias inferiores, grosseiras, psíquicas e mentais; o outro grupo exige o mais elevado treinamento dos poderes Espirituais. Krishna afirma no Shrimad Bhagavad [Bhagavad Gita]: “Aquele que se dedica à realização da Ioga, que controlou seus sentidos e concentrou sua mente em mim (Krishna) a tal Iogue todos os Siddhis estão prontos para servir

Aquele que pretende ouvir a voz de Nada 2A “Voz Sem Som”, ou a “Voz do Silêncio”. Do ponto de vista literal, talvez a melhor tradução seja “A Voz no Som Espiritual”, já que Nada é a palavra equivalente, em sânscrito, de um termo em senzar., o “Som Sem Som”, e compreendê-la, deve aprender antes a natureza de Dharana.3Dharana é a intensa e perfeita concentração da mente sobre um objeto interior, acompanhada de completa abstração de tudo o que pertence ao Universo externo, ou ao mundo dos sentidos

Tendo se tornado indiferente aos objetos de percepção, o aluno deve buscar o Rajá dos sentidos, o Produtor do Pensamento, aquele que desperta a ilusão.

A Mente é o grande Assassino do Real.

O Discípulo deve matar o Assassino.

Porque −

Quando para ele mesmo a sua forma parecer irreal, como parecem irreais ao despertar as formas que ele vê em sonhos;

Quando ele tiver cessado de escutar os muitos, ele poderá discernir o UM − o som interno que mata os sons externos.

Só então, e não antes disso, ele poderá abandonar a região de Asat, do falso, para vir até o reino de Sat, o verdadeiro.

Antes que a Alma possa ver, a Harmonia interior deve ser alcançada e os olhos físicos precisam ficar cegos para toda ilusão.

Antes que a Alma possa ouvir, a imagem (o homem) deve tornar-se surda tanto para rugidos como para sussurros, e tanto para o bramido dos elefantes quanto para o leve zumbido do vaga-lume dourado.

Antes que a Alma possa compreender e possa lembrar, ela deve estar unida ao Orador Silencioso, assim como a forma pela qual a argila é modelada se une, primeiro, à mente do oleiro.

Porque então a Alma irá escutar, e ela lembrará.

E então falará, ao ouvido interno –

A VOZ DO SILÊNCIO

E ela dirá:

Se tua Alma sorri enquanto se banha na luz do Sol da tua Vida; se tua Alma canta dentro da sua crisálida de carne e matéria; se tua Alma chora dentro do seu castelo de ilusão; se tua Alma luta para

romper o cordão de prata que a liga ao MESTRE 4“Grande Mestre” é a expressão usada pelos Lanus ou Chelas para indicar o Eu Superior. É o equivalente a Avalokitesvara, e significa o mesmo que Adi-Buddha entre os Ocultistas budistas, ou ATMA, o “Eu” (Eu Superior) entre os brâmanes, e Christos entre os antigos Gnósticos., então fica sabendo, ó Discípulo, que a tua Alma é da terra.

Quando diante do tumulto do mundo a tua Alma 5A palavra “Alma” é usada aqui para designar o Eu Humano ou Manas, aquilo que se chama, em nossa divisão setenária oculta, de “Alma Humana”, em contraste com a Alma Espiritual e a Alma Animal.florescente se põe a escutar; quando tua Alma responde à voz ruidosa da Grande Ilusão 6Maha-Maya, a grande ilusão, o Universo objetivo.; quando, assustada por ver as lágrimas quentes do sofrimento, ensurdecida pelos gritos de aflição, tua Alma se retira como a tímida tartaruga para dentro da carapaça do SEU PRÓPRIO INTERIOR, percebe, ó Discípulo, que tua alma não é um templo digno do Silencioso “Deus” dela própria.

Quando, tornando- se mais forte, a tua Alma sai do seu retiro seguro; e, rompendo com o santuário protetor, estende o seu fio de prata e se apressa para avançar; quando, olhando para sua própria imagem nas ondas do Espaço, ela murmura: “esta sou eu” − confessa, ó Discípulo, que tua Alma está presa pelas redes da ilusão.7Sakkayaditthi, “ilusão” da personalidade.

Esta terra, Discípulo, é o Salão do Sofrimento, e nele, ao longo de um Caminho de duras provações, há armadilhas para fascinar o Eu através da ilusão chamada “Grande Heresia”8Attavada, a heresia da crença em uma Alma, ou mais precisamente a crença na separação de uma Alma ou Eu em relação ao SER Uno, Universal e Infinito.

Esta terra, ó Discípulo ignorante, é apenas a entrada sombria que leva à luz fraca existente antes do vale da verdadeira luz − aquela luz que nenhum vento pode apagar, a luz que queima sem uma mecha, e sem combustível.

Diz a Grande Lei: “Para que tu te tornes CONHECEDOR de TODO SER 9O Tattvajnani é o “conhecedor” ou discriminador dos princípios na natureza e no homem; e o Atmajnani é o conhecedor de ATMA, ou o SER UNO Universal., tu tens primeiro que conhecer o SER”. Para alcançar o conhecimento daquele SER, tu deves desistir do Eu em função do Não-Eu, e desistir do ser em função do não-ser. Então poderás repousar entre as asas do GRANDE PÁSSARO. Sim, agradável é o repouso entre as asas daquilo que não nasce, nem morre, mas é o AUM 10Kala Hansa, o “Pássaro” ou Cisne. Diz o Nadavindu Upanishad (Rig Veda), traduzido pela Sociedade Teosófica de Kumbakonam − “A sílaba “A” é considerada como a asa direita (do pássaro Hansa). O “U” é sua asa esquerda, o M, a sua cauda, e o Ardha-matra (meio metro) é definido como sua cabeça., ao longo das eras da eternidade 11“Eternidade”, entre os orientais, tem um significado bastante diferente do significado ocidental. Ela geralmente designa os cem anos da “idade” de Brahma, que é a duração de um Maha-Kalpa, ou um período de 311.040.000.000.000 anos.

Cavalga o Pássaro da Vida, se quiseres ter conhecimento. 12Diz o mesmo Nadavindu: “Um Iogue que cavalga o Hansa (e assim contempla o AUM) não é afetado por influências cármicas ou por milhões de pecados

Renuncia à tua vida, se queres viver.13Renuncie à vida da personalidade física, se você pretende viver em espírito

Três Salões, ó Peregrino exausto, conduzem ao final da fadiga. Três Salões, ó vencedor de Mara, te levarão através de três estados 14Os três estados de consciência, que são Jagrat, o estado de vigília, Svapna, o sono com sonhos, e Sushupti, o sono profundo. Estas três condições do Iogue levam à quarta, ou − até o quarto 15O estado de Turiya, que fica além do estado de sono sem sonhos, um estado acima de todos os outros, de alta consciência espiritual., e dali até os sete Mundos 16Alguns Místicos Orientais localizam sete planos de existência, os sete lokas espirituais, ou mundos, dentro do corpo de Kala Hansa, o Cisne fora do Tempo e do Espaço, que é conversível no Cisne dentro do Tempo, quando ele se tornaBrahma, ao invés de Brahman., os mundos do Descanso Eterno.

Se queres aprender os nomes deles, então escuta com toda atenção e lembra.

O nome do primeiro Salão é IGNORÂNCIA − Avidya.

Este é o Salão em que tu viste a luz, em que tu vives e morrerás.17O mundo fenomênico dos sentidos e da consciência apenas terrestre

O nome do segundo Salão é Salão do APRENDIZADO.18O Salão do Aprendizado Probatório.Nele a tua alma encontrará as flores da vida, mas sob cada flor haverá uma serpente enroscada.19A região astral, o mundo psíquico das percepções supersensoriais e das visões enganosas − o mundo dos médiuns. Esta é a grande “Serpente Astral” de Eliphas Levi. Nenhuma flor colhida nestas regiões jamais foi levada para a terra sem uma serpente enroscada em torno do seu talo. Este é o mundo da Grande Ilusão.

O nome do terceiro Salão é SABEDORIA, além do qual se estendem as águas sem praia de AKSHARA, a indestrutível Fonte da Onisciência.20A região da completa Consciência Espiritual, além da qual não há mais perigo para aquele que chegou a ela.

Se queres atravessar o primeiro Salão em segurança, não deixes que a tua mente confunda o fogo da luxúria, que arde ali, com a luz do sol da vida.

Se queres atravessar o segundo Salão em segurança, não pares para experimentar a fragrância fascinante das suas flores. Se queres libertar-te das correntes cármicas, não procures o Guru nestas regiões mayávicas.

Os SÁBIOS não dão atenção às vozes encantadoras da ilusão.

Busca por aquele que te fará nascer no Salão da Sabedoria, 21O Iniciado – que transmite Conhecimento ao discípulo, levando-o até o seu nascimento espiritual, ou segundo nascimento– é chamado de Pai, de Guru ou de Mestre. o Salão que está mais além. Nele todas as sombras são desconhecidas, e a luz da verdade brilha com uma glória que jamais perde sua força.

Aquilo que nunca foi criado está presente em ti, Discípulo, assim como está presente naquele Salão. Se queres alcançá-lo e unir os dois, deves deixar de lado as tuas escuras vestimentas de ilusão. Endurece a voz da carne, não deixes que imagem alguma dos sentidos se ponha entre a sua luz e a tua, de modo que assim os dois possam tornar-se um. E, tendo compreendido a tua própria Ajnyana 22Ajnyana é ignorância ou não-sabedoria, o oposto de Conhecimento, Jnyana, foge do Salão do Aprendizado. Este Salão é perigoso em sua beleza pérfida. Ele só é necessário para a tua provação. Cuida, Lanu, para não ser fascinado e capturado por esta luz enganosa.

Esta luz brilha desde a jóia do Grande Enganador (Mara).23Mara, nas religiões exotéricas, é um demônio, um Asura, mas em filosofia esotérica é a tentação, personificada através dos vícios dos homens. Traduzida literalmente, a palavra significa “aquilo que mata” a Alma. Mara é representado como um Rei (o Rei dos Maras) com uma coroa em que se destaca uma jóia de tamanho brilho que torna cegos aqueles que olham para ela. Este brilho se refere, naturalmente, ao fascínio que o vício exerce sobre certas naturezas Ela domina os sentidos, cega a mente, e deixa o imprudente abandonado e destruído.

A mariposa atraída para a luz deslumbrante do teu lampião noturno está condenada a perecer no óleo viscoso. A alma imprudente que deixa de lutar contra o demônio da imitação e da ilusão, retornará à terra como escrava de Mara.

Observa as Hostes de Almas. Olha como elas pairam sobre o mar tempestuoso da vida humana, e como, exaustas, sangrando, com as asas quebradas, caem uma depois da outra nas ondas crescentes. Levadas por ventos terríveis, perseguidas pelo temporal, elas vão à deriva até os remoinhos, e desaparecem dentro do primeiro grande vórtice.

Se queres alcançar o Vale da Bem-Aventurança através do Salão da Sabedoria, Discípulo, fecha com força os teus sentidos contra a terrível heresia da Separatividade que te afasta do resto.

Não deixes que o teu “Nascido-no-Céu”, submerso no mar de Maya, rompa com a Fonte Universal (ALMA), mas faz com que o poder flamejante se retire até a câmara mais interna, a câmara do Coração 24A câmara interna do Coração, chamada em sânscrito de Brahma-pura. O “poder flamejante” é Kundalini , e moradia da Mãe do Mundo 25O “Poder” e a “Mãe do Mundo” são nomes dados a Kundalini − um dos “poderes místicos do Iogue”. Kundalini é Buddhi considerado como um princípio ativo ao invés de passivo (o que ele é, em geral, quando visto apenas como veículo ou invólucro do Espírito Supremo, ATMA). É uma força eletro-espiritual, um poder criador que, quando despertado e colocado em ação, pode tanto matar quando criar, com igual facilidade

Então, do coração aquele Poder surgirá no sexto, a região do meio, o lugar entre os teus olhos, e se tornará o alento a ALMA UNA, a voz que tudo permeia, a voz do teu Mestre.

Só então tu podes tornar-te um “Caminhante do Céu” 26Um Keshara, um “caminhante do céu” ou “andarilho do céu”. Como é explicado no sexto Adhyaya daquela obra suprema entre os tratados místicos, o Dnyaneshvari, o corpo do iogue se torna como formado pelo vento; como “uma nuvem da qual surgiram membros”. Depois disso, “ele (o iogue) vê as coisas além dos mares e das estrelas; ele escuta a linguagem dos Devas e a compreende, e percebe o que está passando pela mente de uma formiga.”, que pisa os ventos sobre as ondas e cujo passo não toca as águas.

Antes de colocares o teu pé sobre o degrau superior da escada, na escala dos sons místicos, deves escutar de sete maneiras a voz do teu DEUS 27O EU Superior.interior.

O primeiro som é como a voz doce do rouxinol cantando uma canção de despedida para sua companheira.

O segundo vem como o som de um címbalo prateado dos Dhyanis 28Nota da edição brasileira: Dhyanis são espíritos planetários superiores. O termo vem do sânscrito. Cabe registrar que as imagens simbólicas dadas nesta e em outras frases deste trecho coincidem com o conceito pitagórico de “música das esferas”, e o exemplificam., acordando as estrelas cintilantes.

O próximo é como o lamento melodioso de um espírito do oceano, preso em sua concha.

E este é seguido pelo canto da Vina.29A vina é um instrumento musical indiano, de cordas, semelhante ao alaúde

O quinto alcança o teu ouvido como o som agudo da flauta de bambu.

Ele muda em seguida para o toque de uma corneta.

O último vibra como o rolar distante e pesado de um trovão pela nuvem.

O sétimo engole todos os outros sons. Eles morrem, e então já não são ouvidos.

Quando os seis 30Os seis princípios; esta é uma referência ao momento em que a personalidade inferior é destruída e a individualidade interna se une ao Sétimo, ou o Espírito, perdendo-se nele.são destruídos e colocados aos pés do Mestre, então o discípulo se une ao UM,31O discípulo se torna Um com Brahma ou ATMA. torna-se aquele UM e nele vive.

Antes de ingressar neste caminho, tu deves destruir o teu corpo lunar 32A forma astral produzida pelo princípio kâmico, o Kama-rupa, ou corpo de desejo., limpar o teu corpo mental 33Manasa-rupa. O primeiro se refere ao Eu astral ou pessoal; o segundo à individualidade, ou ao Eu reencarnante, cuja consciência em nosso plano , o Manas inferior, deve ser paralisada., e tornar puro o teu coração. As águas puras da vida eterna, cristalinamente claras, não podem misturar-se às águas lamacentas da tempestade tropical.

Notas de Rodapé

  • 1
    A palavra páli Iddhi é sinônimo do termo sânscrito Siddhi, e se refere às faculdades psíquicas, os poderes anormais no homem. Há dois tipos de Siddhis. Um grupo abrange as energias inferiores, grosseiras, psíquicas e mentais; o outro grupo exige o mais elevado treinamento dos poderes Espirituais. Krishna afirma no Shrimad Bhagavad [Bhagavad Gita]: “Aquele que se dedica à realização da Ioga, que controlou seus sentidos e concentrou sua mente em mim (Krishna) a tal Iogue todos os Siddhis estão prontos para servir
  • 2
    A “Voz Sem Som”, ou a “Voz do Silêncio”. Do ponto de vista literal, talvez a melhor tradução seja “A Voz no Som Espiritual”, já que Nada é a palavra equivalente, em sânscrito, de um termo em senzar.
  • 3
    Dharana é a intensa e perfeita concentração da mente sobre um objeto interior, acompanhada de completa abstração de tudo o que pertence ao Universo externo, ou ao mundo dos sentidos
  • 4
    “Grande Mestre” é a expressão usada pelos Lanus ou Chelas para indicar o Eu Superior. É o equivalente a Avalokitesvara, e significa o mesmo que Adi-Buddha entre os Ocultistas budistas, ou ATMA, o “Eu” (Eu Superior) entre os brâmanes, e Christos entre os antigos Gnósticos.
  • 5
    A palavra “Alma” é usada aqui para designar o Eu Humano ou Manas, aquilo que se chama, em nossa divisão setenária oculta, de “Alma Humana”, em contraste com a Alma Espiritual e a Alma Animal.
  • 6
    Maha-Maya, a grande ilusão, o Universo objetivo.
  • 7
    Sakkayaditthi, “ilusão” da personalidade.
  • 8
    Attavada, a heresia da crença em uma Alma, ou mais precisamente a crença na separação de uma Alma ou Eu em relação ao SER Uno, Universal e Infinito
  • 9
    O Tattvajnani é o “conhecedor” ou discriminador dos princípios na natureza e no homem; e o Atmajnani é o conhecedor de ATMA, ou o SER UNO Universal.
  • 10
    Kala Hansa, o “Pássaro” ou Cisne. Diz o Nadavindu Upanishad (Rig Veda), traduzido pela Sociedade Teosófica de Kumbakonam − “A sílaba “A” é considerada como a asa direita (do pássaro Hansa). O “U” é sua asa esquerda, o M, a sua cauda, e o Ardha-matra (meio metro) é definido como sua cabeça.
  • 11
    “Eternidade”, entre os orientais, tem um significado bastante diferente do significado ocidental. Ela geralmente designa os cem anos da “idade” de Brahma, que é a duração de um Maha-Kalpa, ou um período de 311.040.000.000.000 anos
  • 12
    Diz o mesmo Nadavindu: “Um Iogue que cavalga o Hansa (e assim contempla o AUM) não é afetado por influências cármicas ou por milhões de pecados
  • 13
    Renuncie à vida da personalidade física, se você pretende viver em espírito
  • 14
    Os três estados de consciência, que são Jagrat, o estado de vigília, Svapna, o sono com sonhos, e Sushupti, o sono profundo. Estas três condições do Iogue levam à quarta, ou −
  • 15
    O estado de Turiya, que fica além do estado de sono sem sonhos, um estado acima de todos os outros, de alta consciência espiritual.
  • 16
    Alguns Místicos Orientais localizam sete planos de existência, os sete lokas espirituais, ou mundos, dentro do corpo de Kala Hansa, o Cisne fora do Tempo e do Espaço, que é conversível no Cisne dentro do Tempo, quando ele se tornaBrahma, ao invés de Brahman.
  • 17
    O mundo fenomênico dos sentidos e da consciência apenas terrestre
  • 18
    O Salão do Aprendizado Probatório.
  • 19
    A região astral, o mundo psíquico das percepções supersensoriais e das visões enganosas − o mundo dos médiuns. Esta é a grande “Serpente Astral” de Eliphas Levi. Nenhuma flor colhida nestas regiões jamais foi levada para a terra sem uma serpente enroscada em torno do seu talo. Este é o mundo da Grande Ilusão.
  • 20
    A região da completa Consciência Espiritual, além da qual não há mais perigo para aquele que chegou a ela.
  • 21
    O Iniciado – que transmite Conhecimento ao discípulo, levando-o até o seu nascimento espiritual, ou segundo nascimento– é chamado de Pai, de Guru ou de Mestre.
  • 22
    Ajnyana é ignorância ou não-sabedoria, o oposto de Conhecimento, Jnyana
  • 23
    Mara, nas religiões exotéricas, é um demônio, um Asura, mas em filosofia esotérica é a tentação, personificada através dos vícios dos homens. Traduzida literalmente, a palavra significa “aquilo que mata” a Alma. Mara é representado como um Rei (o Rei dos Maras) com uma coroa em que se destaca uma jóia de tamanho brilho que torna cegos aqueles que olham para ela. Este brilho se refere, naturalmente, ao fascínio que o vício exerce sobre certas naturezas
  • 24
    A câmara interna do Coração, chamada em sânscrito de Brahma-pura. O “poder flamejante” é Kundalini
  • 25
    O “Poder” e a “Mãe do Mundo” são nomes dados a Kundalini − um dos “poderes místicos do Iogue”. Kundalini é Buddhi considerado como um princípio ativo ao invés de passivo (o que ele é, em geral, quando visto apenas como veículo ou invólucro do Espírito Supremo, ATMA). É uma força eletro-espiritual, um poder criador que, quando despertado e colocado em ação, pode tanto matar quando criar, com igual facilidade
  • 26
    Um Keshara, um “caminhante do céu” ou “andarilho do céu”. Como é explicado no sexto Adhyaya daquela obra suprema entre os tratados místicos, o Dnyaneshvari, o corpo do iogue se torna como formado pelo vento; como “uma nuvem da qual surgiram membros”. Depois disso, “ele (o iogue) vê as coisas além dos mares e das estrelas; ele escuta a linguagem dos Devas e a compreende, e percebe o que está passando pela mente de uma formiga.”
  • 27
    O EU Superior.
  • 28
    Nota da edição brasileira: Dhyanis são espíritos planetários superiores. O termo vem do sânscrito. Cabe registrar que as imagens simbólicas dadas nesta e em outras frases deste trecho coincidem com o conceito pitagórico de “música das esferas”, e o exemplificam.
  • 29
    A vina é um instrumento musical indiano, de cordas, semelhante ao alaúde
  • 30
    Os seis princípios; esta é uma referência ao momento em que a personalidade inferior é destruída e a individualidade interna se une ao Sétimo, ou o Espírito, perdendo-se nele.
  • 31
    O discípulo se torna Um com Brahma ou ATMA.
  • 32
    A forma astral produzida pelo princípio kâmico, o Kama-rupa, ou corpo de desejo.
  • 33
    Manasa-rupa. O primeiro se refere ao Eu astral ou pessoal; o segundo à individualidade, ou ao Eu reencarnante, cuja consciência em nosso plano , o Manas inferior, deve ser paralisada.
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